Introdução ao estudo da Doutrina Espírita - II

Livro dos Espíritos: linguagem simplificada - Introdução ao estudo da Doutrina Espírita

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A palavra "alma" é problemática porque pode haver muita polêmica e desacordos sobre seu significado, mas é importante que ela tenha um sentido único e claro porque ela é uma parte principal de toda doutrina moral. Como as pessoas usam a palavra "alma" para diversas coisas, existe confusão sobre a natureza da alma. Seria bom se existisse uma palavra única para cada ideia ou coisa pois assim essas confusões não existiriam.

Para algumas pessoas, "alma" é o princípio da vida material orgânica. Para essas pessoas a "alma" não tem existência própria e desaparece quando a vida orgânica desaparece (na morte). Isso é materialismo puro (não existe nada além da matéria). De acordo com essa opinião, a "alma" é produzida pela existência da vida orgânica, ao invés de ser uma coisa que dá origem à vida orgânica.

Para outras pessoas a "alma" é o princípio da inteligência; cada "alma" seria uma parte de um agente universal, e essa parte poderia ser usada (emprestada) por cada ser. Quem pensa assim acredita que existe apenas uma "alma universal". Uma parte dessa "alma universal" é distribuída entre os diversos seres inteligentes enquanto durar a vida orgânica daqueles seres. Quando os seres morrem, aquela parte da "alma universal" – utilizada pelo ser enquanto ele estava vivo – é devolvida para a "alma universal" (como um córrego retornando ao mar). Essa opinião é diferente da primeira opinião porque segundo essa opinião não existe em nós somente a matéria, existe alguma coisa a mais que continua depois da morte física. Mas como a "alma", nesse caso, é apenas uma parte de uma coisa maior (a "alma universal"), a "alma" não tem personalidade própria; ou seja, os seres não poderiam ter consciência de si próprios, não poderiam perceber a diferença entre eles mesmos e os outros seres. Nessa teoria a "alma universal" seria Deus, e cada ser seria um pedaço de Deus (panteísmo).

Por fim, há pessoas que acreditam que a "alma" é um ser moral, que acreditam que os seres são diferentes uns dos outros, que acreditam que os seres são independentes da matéria, e que acreditam que os seres conservam suas personalidades após a morte física. Sem sombra de dúvidas esse entendimento é o mais comum. Todos os povos, independente de seus graus de civilização, acreditam por instinto em um ser que sobrevive ao corpo após a morte física; essa crença espalhada entre os povos não vem de ensino, ela vem de instinto, e geralmente os povos usam nomes diferentes para falar sobre a "alma". Nessa crença a "alma" é considerada o princípio (origem) da vida orgânica, a "alma" não é considerada como sendo produto da existência da vida orgânica. Essa é a doutrina espiritualista.

Sem discutir se cada uma dessas opiniões tem ou não razão, fica claro que a palavra "alma" tem significados e representa ideias bastante diferentes em cada uma daquelas teorias; o certo seria usar uma palavra diferente em cada caso para falar sobre "alma". Independente disso, cada grupo tem todo o direito de usar a palavra "alma" como ela é usada pelo grupo. O problema é que a linguagem tem apenas uma palavra ("alma") para representar três ideias diferentes. Então, para não causar nenhum desentendimento ou confusão, é preciso deixar claro qual significado de "alma" será usado neste livro. Qual daqueles três significados será escolhido para a palavra "alma" não é tão importante desde que todos entendam a mesma coisa pela palavra "alma". O mais lógico é usar o significado mais comum da palavra "alma": um ser imaterial e individual – diferente de todos os outros – que existe em nossos corpos e que sobrevive depois da morte do corpo. E mesmo que tudo que será dito neste livro não passe de teoria, ainda assim o significado da palavra "alma" precisa ficar claro e é necessário haver um entendimento sobre aquele significado.·

Na ocasião em que esse livro está sendo escrito não existem palavras e termos para falar sobre outras ideias que têm a ver com a palavra "alma". Por isso vamos dizer que "princípio vital" é o princípio (agente) de toda vida material e orgânica (qualquer que seja aquela vida). Esse "princípio vital" é o mesmo para todos os seres vivos, desde as plantas até o homem. Como pode haver vida orgânica que não tenha a capacidade de pensar, o "princípio vital" descreve aquilo que anima a vida orgânica independente da capacidade de pensar. A palavra "vitalidade" não daria a mesma ideia que o termo "princípio vital" dá. Para algumas pessoas, o "princípio vital" é uma propriedade da matéria, um efeito que a matéria produz nas condições certas. Para outras pessoas, e essa é a ideia mais comum, o "princípio vital" faz parte de uma energia universal espalhada por todo o universo; durante suas vidas orgânicas, os seres pegam emprestado uma parte dessa energia universal. Essa seria então a "energia da vida", que alguns pensam ser a mesma coisa que uma "energia elétrica" (em forma animal), e que outras pessoas descrevem como "energia magnética", "energia nervosa", etc.

Seja como for, apenas observando as coisas ninguém pode negar que os seres orgânicos têm em si uma força interior que produz o fenômeno da vida orgânica enquanto essa força está presente. Também não pode ser negado que a vida material é a mesma coisa para todos os seres orgânicos, quer os seres orgânicos sejam inteligentes ou não, quer os seres orgânicos sejam capazes de pensar ou não. É evidente que inteligência e pensamento só são possíveis para certas espécies orgânicas. Também não existe dúvida que entre as espécies orgânicas inteligentes e capazes de pensar há uma espécie que possui um senso moral especial: a espécie humana. Esse senso moral é o que torna a espécie humana superior às outras espécies orgânicas.

Para encerrar o assunto "alma", fica entendido que – considerando os múltiplos sentidos da palavra "alma", e não apenas o sentido particular da palavra neste livro – a palavra "alma" não exclui o materialismo, nem exclui o pensamento de que tudo que existe é apenas uma parcela pequena de Deus (panteísmo). Um espiritualista poderia entender a "alma" de acordo com uma ou outra das duas primeiras definições; nesse caso um espiritualista daria um outro nome qualquer ao "ser imaterial distinto". Portanto a palavra "alma" não representa uma opinião ou teoria, ela é um termo com o significado que cada um deseja que ela tenha. Essa é a razão de existirem tantas disputas sobre o significado da palavra.

Não existiria tanta confusão no uso da palavra "alma" nos três casos se a palavra fosse acompanhada de uma outra palavra indicando o "tipo" de "alma" que deve ser entendido de acordo com cada ponto de vista. A palavra "alma" seria – então – um termo genérico significando ao mesmo tempo o princípio da vida material, o princípio da inteligência, e o princípio do senso moral. A palavra "gás", por exemplo, é um termo genérico utilizado para falar sobre todo um conjunto de elementos; quando é necessário evitar confusões, é indicado o "tipo" de "gás" usando-se termos mais específicos; por exemplo, "gás oxigênio" (ou simplesmente "oxigênio"), ou "gás hidrogênio" [1]. Da mesma forma, no caso da palavra "alma", o termo "alma vital" poderia significar o princípio da vida material, o termo "alma intelectual" poderia ser usado para o princípio da inteligência, e o termo "alma espírita" poderia significar aquele ser individual que sobrevive após a morte física. É evidente que tudo não passa de uma questão de palavras (e seus significados), mas é uma questão muito importante para o entendimento entre as pessoas que utilizam as palavras. Pelo que foi dito agora, a "alma vital" seria a mesma coisa para todos os seres orgânicos: plantas, animais, e homens; a "alma intelectual" pertenceria aos animais e aos homens; a "alma espírita" pertenceria somente ao homem.

Insistimos nestas explicações porque a Doutrina Espírita prega a existência – em nós – de um ser independente da matéria e que sobrevive ao corpo; por essa razão a palavra "alma" irá aparecer bastante neste livro, e é essencial que o significado da palavra fique claro para evitar qualquer engano.

 


 

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