Parte II: O mundo espírita – Capítulo IX: Intervenção dos Espíritos no mundo corporal – Influência dos Espíritos nos acontecimentos da vida
Influência dos Espíritos nos acontecimentos da vida
525. | Os Espíritos exercem (tem) alguma influência nos acontecimentos da vida (dos homens)? | |
| – | Com certeza pois os Espíritos aconselham os homens. |
525a. | A influência que os Espíritos tem nos acontecimentos da vida (dos homens) é exercida apenas pelos (através dos) pensamentos que aqueles Espíritos sugerem para os homens, ou aquela influência é exercida (também) de alguma outra forma? Isto é, os Espíritos tem (alguma) ação (interferência) direta no cumprimento (acontecimentos) das coisas? | |||
| – | Sim, os Espíritos tem (alguma) ação (interferência) direta no cumprimento (acontecimentos) das coisas, mas os Espíritos nunca agem fora das leis da natureza. | ||
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Os homens imaginam erradamente que os Espíritos só possam manifestar suas ações por meio de fenômenos (acontecimentos) extraordinários. Os homens gostariam que os Espíritos ajudassem os homens por meio de milagres, e os homens sempre imaginam os Espíritos segurando uma "varinha mágica".
Como não é assim que as coisas acontecem, a intervenção (influência) dos Espíritos nas coisas deste mundo não é percebida claramente pelos homens: aquela intervenção parece ser uma intervenção oculta; as coisas que acontecem com a ajuda dos Espíritos parecem ser acontecimentos perfeitamente naturais (comuns).
Os Espíritos agem de tal maneira que o homem sempre acredita que ele (homem) está obedecendo a um impulso próprio quando ele (homem) toma uma atitude. Essa forma de agir dos Espíritos preserva o livre-arbítrio do homem. Assim – por exemplo – os Espíritos podem provocar o encontro de duas pessoas (que irão acreditar que o encontro aconteceu por acaso); ou os Espíritos podem inspirar (dar a idéia) uma pessoa a passar por um certo lugar; ou os Espíritos podem chamar a atenção do homem para um certo ponto (assunto), se isso atender um objetivo que os Espíritos queiram alcançar. |
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526. | Como os Espíritos tem (alguma) ação sobre a matéria, os Espíritos podem provocar certos efeitos (materiais) com o objetivo de que um acontecimento se realize? Por exemplo: um homem tem que morrer; aquele homem sobe uma escada, a escada quebra, e o homem morre quando o homem cai da escada. Neste exemplo, foram os Espíritos que quebraram a escada para que o destino daquele homem fosse cumprido? | |
| – | É verdade que os Espíritos tem (alguma) ação sobre a matéria [1], mas a ação que os Espíritos tem sobre a matéria é para o cumprimento das leis da natureza, e não para quebrar (derrogar) as leis da natureza (provocando, em algum momento, algum acontecimento inesperado que seja contrário àquelas leis).
No exemplo que foi dado na pergunta, a escada quebrou porque a escada estava podre, ou porque a escada não era forte o bastante para aguentar o peso do homem que estava usando a escada. Se o destino daquele homem fosse falecer daquela maneira (queda de escada), os Espíritos iriam inspirar (dar a idéia) o homem para subir naquela escada, que iria acabar quebrando por causa do peso daquele homem. Assim, a morte daquele homem aconteceria por causas (motivos) naturais, sem que fosse necessário qualquer milagre para que a morte daquele homem acontecesse. |
527. | Vamos usar outro exemplo onde a matéria em seu estado natural (sic [2]) não está envolvida. Um homem tem que morrer fulminado (sendo atingido) por um raio. Aquele homem vai se esconder (dos raios) debaixo de uma árvore, mas um raio cai sobre a árvore e mata o homem. Poderiam ser os Espíritos que provocaram o raio e dirigiram aquele raio para aquela árvore? | |
| – | Aí acontece a mesma coisa que acontece no exemplo anterior. O raio caiu sobre aquela árvore e naquele momento obedecendo às leis da natureza que fizeram com que aquela queda do raio acontecesse naquelas condições. O raio não tomou a direção daquela árvore só porque aquele homem estava debaixo daquela árvore.
Acontece que aquele homem recebeu (dos Espíritos) a idéia (inspiração) de ir se esconder debaixo de uma árvore onde um raio iria cair. A árvore não deixaria de ser atingida pelo raio só porque aquele homem não estava escondido debaixo dela. |
528. | No caso de uma pessoa mal intencionada disparar uma arma contra outra pessoa e a bala não atingir aquela segunda pessoa (passando apenas perto), poderia ter acontecido que um Espírito bondoso tivesse desviado a bala? | |
| – | Se aquela segunda pessoa não tem que (deve) morrer dessa forma, o Espírito bondoso irá dar a idéia (inspirar) para aquela pessoa se desviar da bala, ou – então – o Espírito bondoso poderá ofuscar (confundir) a pessoa que está com a arma, fazendo com que a pessoa com a arma perca a mira da arma. Uma vez que a arma tenha sido disparada, a bala irá percorrer o caminho que a bala tem que percorrer segundo as leis da natureza. |
529. | Como devem ser entendidas as "balas encantadas" (mágicas) mencionadas em algumas lendas, e que fatalmente atingem o alvo? | |
| – | Isso é pura imaginação. O homem gosta do que é maravilhoso e não se contenta com as maravilhas da natureza. |
529a. | As ações dos Espíritos que dirigem os acontecimentos da vida podem ter suas ações impedidas por Espíritos que queiram o contrário? | |
| – | O que Deus quer, é feito (realizado). Se houver demora na execução, ou se aparecem obstáculos para a execução, é porque Deus quis que assim fosse. |
530. | Os Espíritos levianos (inconsequentes) e zombeteiros (gozadores) não podem criar pequenos embaraços (dificuldades) para a realização dos projetos dos homens, para as previsões (planejamentos) dos homens? Resumindo, os Espíritos levianos e zombeteiros seriam os (responsáveis) causadores dos acontecimentos que os homens chamam de "pequenas misérias da vida humana"? | |
| – | Os Espíritos levianos e zombeteiros tem prazer em causar aborrecimentos para o homem. Aqueles aborrecimentos são provas para o homem exercitar a paciência [3]. Aqueles Espíritos se cansam quando percebem que não estão conseguindo nada (atrapalhando a vida do homem).
Entretanto, não seria nem justo e nem correto se o homem culpasse aqueles Espíritos por todas as decepções que os homens tem, já que os homens são os principais culpados (pelas decepções) por causa da irreflexão (ações impensadas) dos próprios homens. Pode ter certeza que se uma peça de louça se quebra, é mais por causa do descuido do homem do que por culpa dos Espíritos. |
530a. | Os Espíritos que provocam contrariedades para um homem agem motivados por animosidade (hostilidade) pessoal, ou aqueles Espíritos fazem isso contra qualquer pessoa e sem motivo (por pura malícia)? | |
| – | Aqueles Espíritos agem como agem por ambas aquelas razões. Às vezes os Espíritos que molestam (incomodam) um homem são inimigos que o homem fez em sua existência (física) atual, ou em existências (físicas) passadas. Outras vezes aqueles Espíritos não tem qualquer motivo para agirem como eles agem. |
531. | A malevolência (maldade) de uma pessoa que fez mal à alguém na Terra acaba quando aquela pessoa morre? | |
| – | Muitas vezes, quando aquela pessoa morre, aquela pessoa reconhece (percebe) a injustiça do que aquela pessoa fez, aquela pessoa reconhece o mal que causou. Mas também não é raro que aquela pessoa (desencarnada) continue cheia de animosidade (hostilidade) e continue com a perseguição a alguém (se Deus permitir isso, com o objetivo de testar a pessoa perseguida) [4]. |
531a. | É possível por um fim nesse tipo de perseguição? Como? | |||
| – | Sim. É possível por um fim nesse tipo de perseguição orando por aqueles Espíritos e – assim – retribuindo (pagando) o mal com o bem. Aqueles Espíritos acabarão compreendendo o erro que estão cometendo. Além disso, se o homem souber (conseguir) se colocar acima das maquinações (conspirações) daqueles Espíritos, aqueles Espíritos irão embora quando perceberem que não estão conseguindo nada. | ||
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A experiência demonstra que alguns Espíritos continuam – em outra existência (desencarnados) – a praticar as vinganças (perseguições) que aqueles Espíritos praticavam enquanto estavam encarnados, e que – assim (também) – o homem paga o mal que o homem tenha causado para outra pessoa [5]. |
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532. | Os Espíritos tem o poder de afastar os males de certas pessoas, e de favorecer (beneficiar) aquelas pessoas com a prosperidade? | |
| – | De todo (em geral), aqueles Espíritos não tem aquele poder pois há males que são desígnios (determinações) da Providência. Mas aqueles Espíritos tem o poder de amenizar (diminuir) as dores do homem, dando (inspirando) paciência e resignação (aceitação) para o homem.
Mas os homens não devem esquecer que (também) muitas vezes depende do próprio homem se poupar dos males que os homens sofrem, ou ao menos atenuar (suavizar) aqueles males.
Deus deu a inteligência para os homens para que aquela inteligência seja usada. É principalmente através da inteligência que os Espíritos ajudam os homens, sugerindo para os homens idéias que são propícias (adequadas) para o bem dos homens. Mas os Espíritos não ajudam os homens que não sabem ajudar a si próprios. Esse é o sentido das palavras: "buscai e achareis, batei e se vos abrirá".
Além disso, o homem deve saber que nem tudo que parece ser um mal para o homem é de fato um mal. Frequentemente, aquilo que o homem considera que seja um mal acabará produzindo (resultando) um bem muito maior (no futuro). O homem quase nunca compreende isso porque o homem só presta atenção (pensa) no momento presente, ou só presta atenção em si mesmo. |
533. | Se um homem pede riquezas (materiais) para os Espíritos, os Espíritos podem fazer com que o pedido do homem seja atendido? | |
| – | Algumas vezes os Espíritos podem atender àquele pedido do homem como uma prova para o homem [6]. Mas quase sempre os Espíritos não atendem àquele pedido [7], da mesma forma que um pai se recusaria a satisfazer um pedido insensato (sem sentido) de uma criança. |
533a. | Qual é o tipo dos Espíritos (bons ou maus) que concedem aqueles favores (materiais) para os homens? | |
| – | Tanto os Espíritos bons quanto os Espíritos maus (imperfeitos) concedem aqueles favores (materiais) para os homens, mas a intenção (dos Espíritos) não é a mesma em cada caso.
Na maioria das vezes são os Espíritos maus (imperfeitos) que concedem aqueles favores para os homens porque aqueles Espíritos querem arrastar o homem para o mal. Quando os Espíritos maus (imperfeitos) concedem aqueles favores para os homens, aqueles Espíritos encontram um meio fácil de arrastar o homem para o mal porque aqueles Espíritos estão – então – facilitando para o homem os gozos (prazeres) que a riqueza (material) proporciona [8]. |
534. | Existe alguma influência (interferência) de algum Espírito quando parece que obstáculos (dificuldades) fatalmente dificultam a realização dos projetos de um homem? | |
| – | Algumas vezes aqueles obstáculos (dificuldades) são uma consequência da ação dos Espíritos, mas na maioria das vezes é o homem que anda cometendo erros na elaboração (planejamento) e execução de seus próprios projetos. Nesse assunto, a posição (situação) e o caráter da pessoa tem muita influência. Se o homem teima em seguir por um caminho que o homem não deve seguir, então os Espíritos não tem nenhuma culpa (responsabilidade) pelos fracassos do homem. Nesse caso, é o próprio homem quem é o "mau gênio" do homem. |
535. | É para o Espírito protetor do homem que o homem deve agradecer quando algo de venturoso (bom) acontece para aquele homem? | |
| – | O homem deve agradecer primeiramente a Deus pois nada é realizado sem a permissão de Deus. Depois, o homem deve agradecer os Espíritos bons que foram os agentes (mensageiros) da vontade de Deus. |
535a. | O que acontece com o homem que se esquece de agradecer pelas coisas venturosas (boas) que acontecem para aquele homem? | |
| – | Acontece a mesma coisa que acontece com os ingratos. |
535b. | No entanto, há pessoas que não pedem nada e não agradecem por nada, e mesmo assim tudo corre bem para aquelas pessoas! | |
| – | Isso é uma verdade, mas não podemos perder de vista como isso vai terminar. Aquelas pessoas pagarão bem caro pela felicidade que tem e que não fizeram nada para merecer, pois quanto mais aquelas pessoas tiverem recebido (de Deus), tanto maiores serão as contas que aquelas pessoas terão que prestar (para Deus) [9]. |
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[1] De forma geral um Espírito precisa estar encarnado para que o Espírito consiga agir diretamente sobre a matéria (da forma como os homens agem). Apenas Espíritos bastante inferiores e ainda muito ligados à matéria conseguem realizar alguma interferência diretamente na matéria (da forma como os homens realizam). Ver questão 106 sobre "Espíritos batedores e perturbadores" onde está dito "todos os Espíritos podem produzir fenômenos físicos, mas os Espíritos de ordem mais elevada normalmente deixam a produção e condução de fenômenos físicos a cargo dos Espíritos subalternos". Ver questão 254 onde os Espíritos superiores declaram: "o Espírito não age na matéria". Por outro lado, os homens não conseguem agir na matéria conforme a vontade do homem: por exemplo, o homem não pode controlar os fenômenos da natureza (fazer chover, ou fazer parar de chover). Para as ações na matéria que estão além da capacidade dos homens (por exemplo, os fenômenos da natureza), Deus utiliza Espíritos que são capazes de realizar alguma ação na matéria (com a permissão de Deus e obedecendo as ordens de Espíritos elevados). Ver questão 536 sobre "ação dos Espíritos sobre os fenômenos da natureza".
[2] Sic Erat Scriptum: traduzido como "assim estava escrito".
[3] Os Espíritos levianos e zombeteiros não receberam a tarefa de atrapalhar a vida dos homens. Aqueles Espíritos fazem o que fazem por conta própria, e Deus permite que isso aconteça para testar os homens.
[4] Ver também questão 292 a 295 sobre "relações de simpatia e de antipatia entre os Espíritos, metades eternas".
[5] Aqui (e somente aqui), quando Allan Kardec diz "o homem paga o mal que o homem tenha causado para outra pessoa", Allan Kardec está supondo que uma vingança (ou perseguição) de um Espírito desencarnado seja "justificada" por causa de um mal que tenha sido praticado pelo homem "perseguido" contra aquele Espírito. Primeiro, esse tipo de "perseguição" só acontece com a permissão de Deus. Segundo, esse tipo de "perseguição" acontece apenas em casos particulares, e não é uma regra geral (como o comentário de Allan Kardec pode dar a impressão que seja o caso). Terceiro, o mal que alguém tenha praticado contra outra pessoa pode ser reparado de várias outras formas que não seja através desse tipo de "perseguição".
[6] A forma como um homem usa as riquezas materiais muitas vezes é uma prova muito dura para o homem pois as riquezas materiais costumam afastar o homem do caminho do bem, alimentando o orgulho e o egoísmo no homem.
[7] Ver também Introdução ao Livro dos Espíritos: "os Espíritos Bons desprezam quem quer usar os caminhos do céu como um degrau para conquistar coisas na Terra".
[8] O gozo dos prazeres materiais geralmente costuma afastar os homens do caminho do bem e do progresso espiritual, mantendo os homens presos às coisas materiais.
[9] Lucas 12:48: "... a quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido".
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