Parte III: Leis morais – Capítulo III: Lei do trabalho – Limite do trabalho, repouso

Livro dos Espíritos: linguagem simplificada - Limite do trabalho, repouso

 

Limite do trabalho, repouso 

 

682.

Já que o repouso é uma necessidade para todo homem que trabalha, então o repouso não é uma lei da natureza também?

 

Sem dúvida. O repouso serve para a reparação das forças do corpo (físico), e o repouso também é necessário para dar um pouco mais de liberdade à inteligência (Espírito), a fim de que (o Espírito) se eleve (afaste) acima da matéria [1].

 

683.

Qual é o limite para o trabalho?

 

O limite para o trabalho é o limite das forças do homem [2]. Deus deixa o homem livre para escolher sobre o resto [3].

 

684.

O que deve ser pensado sobre o homem que abusa de sua autoridade e impõem (exige) trabalho excessivo dos seus inferiores?

 

Essa é uma das piores ações do homem. Todo homem que tem o poder de mandar é responsável pelo excesso de trabalho que aquele homem imponha (exija) a seus inferiores, pois quando o homem faz isso o homem transgride (não cumpre) a lei de Deus [4].

 

685.

O homem tem o direito de repousar na velhice?

 

Sim. O homem não é obrigado a nada em sua velhice [5]. Na velhice o homem só está obrigado a (fazer) aquilo que esteja de acordo com as forças do homem.

 

685a.

Mas o que um homem velho poderia fazer se o homem velho precisa trabalhar para viver mas não tem condições para trabalhar?

 

O homem forte deve trabalhar para o homem fraco. Se o homem velho não tem uma família, a sociedade deve fazer o que a família faria. É a lei de caridade.

 

 

 

 

Não basta que se diga ao homem que o homem tem o dever de trabalhar. É preciso que o homem – que tem de prover (cuidar) a própria existência por meio do trabalho – encontre alguma coisa com que o homem possa trabalhar, e isso nem sempre acontece [6].

 

Quando a suspensão (ausência) das oportunidades de trabalho se generaliza (se espalha na sociedade), a ausência de trabalho ganha as proporções (tamanho) de um flagelo (calamidade), igual a miséria. A ciência econômica procura um remédio para isso (falta de oportunidades de trabalho) no equilíbrio entre a produção e o consumo. Mas mesmo esse equilíbrio – se puder ser alcançado – não irá durar o tempo todo, e durante o tempo em que tal equilíbrio não existe o trabalhador ainda continua precisando sobreviver.

 

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Há um elemento (fator) que normalmente não é pesado nessa balança (não é considerado); e sem esse elemento (fator) até mesmo a ciência econômica não passa de uma simples teoria (sic [7]). Esse elemento é a educação, mas não a educação intelectual, e sim a educação moral.

 

Porém, não estamos falando da educação moral (conhecimento) conseguida através dos livros, estamos falando da educação moral (comportamento) que é a arte de formar os caracteres, estamos falando da educação moral (comportamento) que incute (inspira) hábitos, visto que a educação (comportamento) é o conjunto dos hábitos adquiridos.

 

Se for levada em conta a multidão de pessoas que é lançada (aparece) todos os dias na torrente (correnteza) da população, existe espanto (surpresa) nas consequências desastrosas do aparecimento daquela multidão de pessoas no meio da população se aquela multidão de pessoas não tem princípios (valores mais elevados), não tem freios, e se aquela multidão de pessoas está entregue aos próprios instintos (materiais)?

 

Quando essa arte (educação ou comportamento moral) for conhecida, quando essa arte for compreendida, e quando essa arte for praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem (ação ordenada) e hábitos de previdência (preocupação com o futuro bem-estar) para consigo mesmo e para com os seus. O homem terá – então – hábitos de respeito a tudo o que é respeitável, e (todos) esses hábitos irão ajudar o homem a atravessar menos penosamente os dias ruins que não podem ser evitados.

 

A desordem e a falta de previdência (preocupação com o futuro bem-estar) são duas chagas (males) que só uma educação (comportamento) bem entendida pode curar. Esse é o ponto de partida, o elemento (fator) real do bem-estar, o penhor (garantia) da segurança de todos.

 


 

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[2]        A palavra "força" deve ser entendida aqui não apenas como "força física" propriamente dita, mas deve ser entendida também com o significado de "capacidade" ou "qualidade". Isso quer dizer que um homem inteligente, por exemplo, deve usar sua inteligência (na prática do bem) no limite que aquela inteligência permita.

[3]        Por exemplo, o tipo de trabalho, ou a duração do trabalho.

[4]        Ver também questão 273.

[5]        A expressão "obrigado a nada" é usada como força de expressão e quer dizer "trabalho", pois é claro que o homem continua a ter muitas outras obrigações mesmo na velhice (como a prática do bem, por exemplo).

[6]        Estas considerações de Allan Kardec dizem respeito a todas as questões agrupadas em "necessidade do trabalho", e dizem respeito a todas as questões agrupadas em "limite do trabalho, repouso". Estas considerações de Allan Kardec não dizem respeito apenas ao assunto da questão 685a, apesar da posição do texto das considerações dentro do texto do livro.

[7]        Sic Erat Scriptum: traduzido como "assim estava escrito".

 

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