Parte III: Leis morais – Capítulo IX: Lei de igualdade – Desigualdade das riquezas
Desigualdade das riquezas
808. | A desigualdade das riquezas não seria causada pela desigualdade das faculdades (capacidades) dos homens – pois a desigualdade das faculdades (capacidades) dos homens faz com que algumas pessoas tenham mais meios de conseguir bens do que outras pessoas tem? | |
| – | Sim e não. O que deve ser dito sobre a velhacaria (trapaça) e sobre o roubo (nesse assunto)? |
808a. | E a riqueza herdada? A riqueza herdada não é um fruto de paixões (atos) más. | |
| – | O que é conhecido por certo sobre uma riqueza herdada? Investiguem a fonte daquela riqueza herdada e poderá ser percebido que a origem daquela riqueza herdada nem sempre é pura. Por acaso há a certeza de que aquela riqueza herdada não se originou de uma espoliação (apropriação indevida) ou de uma injustiça (por exemplo)?
Mas mesmo sem levar em conta a origem de uma riqueza herdada (que pode ter uma origem má), é de se acreditar que a cobiça de uma riqueza herdada (mesmo de uma riqueza herdada que foi bem conseguida) – além do desejo secreto de possuir aquela riqueza herdada o mais depressa possível – sejam sentimentos louváveis? Esses sentimentos (intenção) são aquilo que Deus julga, e asseguramos que o juízo (julgamento) de Deus é mais severo do que o juízo (julgamento) dos homens. |
809. | Se uma pessoa herda uma riqueza que foi inicialmente mal conseguida, aquela pessoa que herdou aquela riqueza mal conseguida tem alguma responsabilidade? | |
| – | Não há dúvida de que uma pessoa não é responsável pelo mal que outras pessoas tenham feito, ainda mais se o mal feito não é conhecido (e isso é uma coisa que pode acontecer).
Mas fiquem sabendo que muitas vezes uma riqueza só chega às mãos de um homem para que aquele homem tenha a oportunidade de reparar (consertar) uma injustiça. Nesse caso, esse homem é um homem feliz (afortunado) se esse homem compreende (percebe) a razão pela qual ele recebeu a riqueza! Se esse homem fizer justiça em nome do homem (Espírito) que cometeu a injustiça, a reparação da injustiça será levada em conta a favor daqueles dois homens pois não é raro que o homem (Espírito) que cometeu a injustiça seja o homem (Espírito) que provoca (busca) a reparação da injustiça. [1] |
810. | O homem pode – sem sair da lei – dispor de modo mais ou menos equitativo (justo) dos bens que o homem possui [2]. Nesse caso, aquele homem será responsável pelo destino que aquele homem tiver dado para os seus bens após a sua morte (física)? | |
| – | Toda ação tem consequências. As boas ações tem consequências boas, as outras ações tem consequências amargas. Sempre entendam isso bem. |
811. | Será possível, e já terá existido, a igualdade absoluta das riquezas? | |
| – | A igualdade absoluta das riquezas nunca existiu. A igualdade absoluta das riquezas nem é possível porque a diversidade das faculdades (capacidades) entre os homens, e a diversidade de caracteres entre os homens não permitem que exista uma igualdade absoluta das riquezas. |
811a. | No entanto, há homens que julgam (pensam) que a igualdade absoluta das riquezas seria o remédio (solução) para os males da sociedade. O que os Espíritos pensam sobre isso? | |
| – | Aqueles homens são homens que se dedicam a cultivar (criar) sistemas [3], ou são homens ambiciosos e cheios de inveja. São homens que não compreendem (entendem) que a igualdade com que eles sonham seria desfeita (iria acabar) em pouco tempo pela força das coisas (circunstâncias). Combatam o egoísmo que é a chaga (ferida) social dos homens, e não corram atrás de quimeras (fantasias). |
812. | Já que a igualdade das riquezas é impossível, então a igualdade do bem-estar é impossível também? | |
| – | Não. A igualdade do bem-estar é possível, mas o bem-estar é relativo.
Todos os homens poderiam gozar de bem-estar se os homens se entendessem convenientemente. O verdadeiro bem-estar está no emprego do tempo como o homem pensa que seu tempo deva ser empregado; o verdadeiro bem-estar não está na execução de trabalhos que o homem não gosta de executar. Como cada um tem aptidões (talentos) diferentes, nenhum (tipo de) trabalho útil deixaria de ser realizado [4]. O equilíbrio existe em tudo. É o homem que perturba o equilíbrio. |
812a. | Será possível que todos os homens se entendam? | |
| – | Os homens irão se entender quando os homens praticarem a lei de justiça. |
813. | Há pessoas que caem na privação e na miséria por própria culpa. Nesse caso a sociedade não tem nenhuma responsabilidade nisso? | |
| – | Com certeza a sociedade tem responsabilidade nisso. Já dissemos que muitas vezes a sociedade é a principal culpada nesse tipo de coisa. Além disso, não é a sociedade que tem que cuidar da educação moral de seus membros? Com bastante frequência em vez da sociedade sufocar as tendências (inclinações) perniciosas (más) de seus membros, a sociedade fornece uma má educação (moral) para os seus membros a ponto de prejudicar o critério (capacidade de julgamento correto) de seus membros. |
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[1] A segunda parte dessa resposta dos Espírito superiores é um exemplo que descreve um tipo de responsabilidade que um herdeiro pode ter ao receber uma riqueza herdada: no caso, a responsabilidade do herdeiro é a de reparar (consertar) uma injustiça.
[2] Allan Kardec usou uma forma mais ou menos difícil de ser entendida para falar sobre os "testamentos" simplesmente.
[3] Um sistema político é um exemplo dos "sistemas" mencionados pelos Espíritos superiores. Por exemplo, o sistema político do comunismo tem (teria) o objetivo de conseguir uma igualdade na distribuição das riquezas entre todos os homens.
[4] Essa afirmação dos Espíritos superiores deve ser vista como uma "força de expressão" pois é óbvio que há certos tipos de trabalho que dificilmente qualquer pessoa desejaria realizar por livre e espontânea vontade (por exemplo, "coletor de lixo doméstico", ou "faxineiro de banheiros públicos").
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