Parte III: Leis morais – Capítulo X: Lei de liberdade – Escravidão

Livro dos Espíritos: linguagem simplificada - Escravidão

 

Escravidão

 

829.

Haveria homens que estariam destinados a ser propriedade de outros homens por natureza?

 

A sujeição absoluta (total) de um homem a outro homem vai contra a lei de Deus. A escravidão é um abuso da força. A escravidão desaparece com o progresso (moral) dos homens, assim como todos os outros abusos do homem desaparecem pouco a pouco com o progresso (moral) dos homens.

 

 

 

 

Uma lei humana que consagra (aprova) a escravidão vai contra a natureza pois tal lei humana trata o homem (escravizado) como um ser irracional (animal), e degrada (rebaixa) o homem (escravizado) fisicamente e moralmente.

 

 

830.

Quando a escravidão faz parte dos costumes de um povo, há pessoas que se aproveitam da escravidão. Essas pessoas que – então – tiram proveito da escravidão merecem censura (reprovação) embora tais pessoas só tirem proveito da escravidão porque estão agindo de acordo com um costume que parece ser natural?

 

O mal é sempre o mal, e não há esperteza de raciocínio (sofisma) que possa fazer com que uma ação má se torne uma ação boa. Mas a responsabilidade do homem pelo mal que o homem pratica depende dos meios que o homem tem para compreender o mal que o homem está praticando.

 

Quem tira proveito da lei (humana) da escravidão é sempre culpado por violar uma lei da natureza (a lei da liberdade). Mas mesmo nesse caso a culpa é relativa, assim como a culpa é relativa em tudo. Como o costume da escravidão foi criado entre os costumes de certos povos, é perfeitamente possível que os homens – agindo de boa-fé – tenham tirado proveito da escravidão se isso era uma coisa que parecia ser natural.

 

Mas a razão (raciocínio) do homem se desenvolve (fortalece), e a razão (raciocínio) do homem se torna mais esclarecida pelas luzes (ensinamentos) do Cristianismo. Então, a razão (raciocínio) do homem mostra para o homem que o escravo é um ser igual a ele próprio perante Deus. A partir do momento em que o homem tem conhecimento de que o escravo é um ser igual a ele próprio perante Deus, o homem não tem mais desculpas para continuar tirando proveito da escravidão.

 

831.

A desigualdade natural das aptidões (talentos) [1] não coloca certas raças humanas na dependência de raças humanas mais inteligentes?

 

Sim, algumas raças humanas são colocadas na dependência de raças humanas mais inteligentes, mas as raças humanas menos inteligentes são colocadas na dependência de raças humanas mais inteligentes para que as raças humanas menos inteligentes se elevem (progridam) e não para que as raças humanas menos inteligentes sejam embrutecidas ainda mais pela escravidão.

 

Durante muito tempo os homens consideraram (trataram) certas raças humanas como sendo animais de trabalho com braços e pernas. Aqueles homens se julgaram (se deram) no direito de vender os seres das raças humanas inferiores como se os seres daquelas raças inferiores fossem bestas de carga. Os homens que venderam seus semelhantes se consideravam como tendo sangue mais puro! São homens insensatos que não veem nada que não seja a matéria. O Espírito é que é mais, ou menos puro, e não o sangue. [2]

 

832.

No entanto, há homens que tratam os seus escravos com humanidade, sem deixar faltar nada para os seus escravos, e que acreditam que a libertação dos escravos iria expor os escravos a privações (dificuldades) maiores do que as dificuldades da escravidão. O que os Espíritos dizem sobre isso?

 

Tais homens compreendem melhor os seus interesses (materiais). Tais homens têm o mesmo cuidado com os seus bois e os seus cavalos para que os seus animais (e os seus escravos) tenham um bom preço no mercado. Tais homens não são tão culpados como os homens que maltratam os seus escravos, mas nem por isso tais homens deixam de dispor dos seus escravos como se os escravos fossem uma mercadoria, privando os seus escravos do direito de pertencer a si mesmos (o que é um direito dos homens escravizados também).

 


 

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[1]

Ver questão 804 a 805 sobre "desigualdade das aptidões (talentos)". Ver questão 806 a 807 sobre "desigualdades sociais".

 

[2]

Ver também questão 361. Ver também questão 803.

 

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