Introdução ao estudo da Doutrina Espírita - VI
introdução, doutrina, resumo, Deus, encarnação, perispírito, escala espírita, errantes, expiação
Como acabamos de dizer, os próprios seres que se comunicam dão a si mesmos o nome de Espíritos, ou gênios; pelo menos alguns afirmaram terem pertencido a homens que viveram na Terra. Eles fazem parte do mundo espiritual, assim como nós fazemos parte do mundo corporal durante a vida na Terra. Vamos resumir, em poucas palavras, os pontos principais da Doutrina que os Espíritos transmitiram porque assim fica mais fácil responder a certas objeções.
| Deus é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom. Deus criou o universo, que inclui todos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais. Os seres materiais constituem o mundo visível ou corpóreo, e os seres imateriais constituem o mundo invisível ou espírita, isto é, o mundo dos Espíritos. O mundo espírita é o mundo normal, mais antigo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo. O mundo corporal é secundário; poderia deixar de existir, ou poderia não ter jamais existido, e mesmo assim a essência do mundo espírita não seria alterada. Os Espíritos usam temporariamente um envoltório material que morre [1]; a morte destrói esse envelope material e devolve para o Espírito a liberdade que ele perdeu quando ele começou a usar aquele envelope material para viver na Terra. Entre as diferentes espécies de seres corpóreos, Deus escolheu a espécie humana para a encarnação dos Espíritos que chegaram a um certo grau de desenvolvimento; Deus deu à espécie humana uma superioridade moral e intelectual sobre as outras espécies. A alma é um Espírito encarnado (um Espírito temporariamente habitando um corpo físico), sendo o corpo físico apenas o seu envoltório (ou envelope). Há três coisas no homem: 1) há o corpo físico, ou ser material, como o dos animais, ambos animados por um mesmo "princípio vital"; 2) há a alma, ou ser imaterial, um Espírito encarnado no corpo físico; 3) há um laço semimaterial que prende a alma ao corpo físico, uma coisa que está entre a matéria e o Espírito. Então, o homem possui duas naturezas: 1) pelo corpo físico, o homem participa da natureza dos animais, e tem os mesmos instintos que os animais; 2) pela alma (Espírito), o homem participa da natureza dos Espíritos. O laço (perispírito), que une o corpo físico e o Espírito, é uma espécie de envoltório (envelope) semimaterial (quase material). A morte física é a destruição do envoltório mais grosseiro (corpo físico). O Espírito conserva o perispírito que é uma espécie de corpo etéreo, invisível para nós no estado terreno normal; porém, um perispírito pode ficar visível e pode até mesmo ser tocado, como acontece em fenômenos de aparições. Portanto, o Espírito não é um ser abstrato, indefinido, que só pode ser imaginado pelo pensamento. É um ser real, bem delimitado e definido; em certos casos, um Espírito pode ser visto, ouvido, e tocado. Os Espíritos pertencem a diferentes classes e não são todos iguais entre si, nem em poder, nem em inteligência, nem em saber, nem em moralidade. Os Espíritos da primeira ordem (mais alta) são os Espíritos superiores; eles são diferentes dos outros por causa de sua perfeição, de seus conhecimentos, de sua proximidade de Deus, pela pureza de seus sentimentos, e por seu amor do bem: são os anjos, ou Espíritos puros. As outras classes de Espíritos vão ficando mais distantes da perfeição dos anjos; os Espíritos das classes mais baixas gostam do mal e têm a maioria de nossas paixões terrenas: o ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho, etc.. Há também uma classe onde os Espíritos não são nem muito bons e nem muito maus; esses Espíritos não são perversos mas gostam de perturbar e de causar polêmicas e confusões; a malícia e as inconsequências são coisas bastante comuns entre eles. São chamados de Espíritos estouvados (trapalhões) ou Espíritos levianos. Os Espíritos não ficam para sempre em uma mesma classe de Espíritos. Todos se melhoram passando e subindo pelos diferentes graus da escala espírita. Para que um Espírito melhore ele precisa passar pela encarnação (essa é uma lei de Deus); alguns Espíritos são obrigados – como forma de expiação – a passar pela encarnação, enquanto outros Espíritos passam pela encarnação – por vontade própria – para completar uma missão. Todos os Espíritos, sem exceção, têm que obrigatoriamente passar pela vida material várias vezes, repetidamente, até conseguirem chegar no grau da perfeição (quase) absoluta; a vida material é uma espécie de filtro ou depurador, e os Espíritos saem mais ou menos purificados de cada uma de suas vidas materiais. Quando o corpo físico morre, a alma (Espírito) retorna para o mundo dos Espíritos, de onde vai novamente sair – depois de um período de tempo mais ou menos longo – para passar por uma nova existência material; no tempo entre duas vidas materiais sucessivas, o Espírito permanece em um estado transitório (temporário) e é chamado de "Espírito errante". Se um Espírito tem que passar por muitas encarnações, então é evidente que todas as pessoas já tiveram muitas existências físicas, e que ainda irão ter muitas outras que serão mais ou menos aperfeiçoadas, vivendo quer seja na Terra, quer seja em outros planetas. A encarnação dos Espíritos acontece sempre na espécie humana; é errado acreditar que a alma ou Espírito possa encarnar no corpo de um animal. * Há entre esta doutrina da reencarnação e a da metempsicose – como é admitido por certas seitas – uma diferença característica, que é explicada neste livro. As diferentes existências corpóreas do Espírito são sempre progressivas e nunca regressivas; um Espírito nunca volta para trás na escala espiritual. Mas a rapidez do progresso vai depender dos esforços que o Espírito fizer para atingir a perfeição. As qualidades da alma são as mesmas qualidades do Espírito que está encarnado em cada pessoa; assim, o homem de bem é a encarnação de um Espírito bom, o homem perverso é a encarnação de um Espírito impuro [2]. A alma possuía uma individualidade antes de encarnar; essa individualidade é conservada depois que o Espírito separou-se do corpo físico pela morte. Quando uma alma (Espírito) retorna para o mundo dos Espíritos, ela encontra todas aquelas pessoas que ela conheceu na Terra e que haviam retornado para o mundo dos Espíritos antes dela; a alma (Espírito) pode se lembrar – então – de todas as suas existências físicas do passado, e pode se lembrar de todo bem, e de todo mal, que já tenho feito no passado. O Espírito encarnado sofre a influência da matéria; quem consegue vencer essa influência, pela elevação [3] e pela eliminação das imperfeições de sua alma, se aproxima dos Espíritos bons, com quem um dia estará. Quem permite ser dominado pelas más paixões, e põe todas as suas alegrias na satisfação de suas próprias vontades grosseiras, se aproxima dos Espíritos impuros (dando mais importância à sua natureza animal). Os Espíritos encarnados moram nos diferentes astros do universo. Os Espíritos não encarnados, ou Espíritos errantes, não ficam em uma região determinada e definida; estão por toda parte no espaço – e ao nosso lado. Os Espíritos errantes nos veem e estão o tempo todo ao nosso lado, nos acotovelando [4]. É toda uma população invisível movendo-se em torno de nós (encarnados). Os Espíritos estão o tempo todo exercendo alguma ação (influência) sobre o mundo moral (nossos pensamentos) e até mesmo sobre o mundo físico. Os Espíritos agem sobre a matéria e sobre o pensamento, e são uma das forças da natureza; Os Espíritos são a causa e a origem de muitos fenômenos que não podem ser explicados (ou que são mal explicados), acontecimentos que não encontram uma explicação racional se não for no Espiritismo. As relações dos Espíritos com os homens são constantes. Os Espíritos bons nos puxam para o bem, nos dão apoio nas provas (lições) da vida, nos ajudam a suportar e passar pelas dificuldades da vida com coragem e aceitação. Os Espíritos maus (imperfeitos) nos empurram para o mal: eles têm prazer em nos ver falhar e em nos ver ficar parecidos com eles. As comunicações dos Espíritos com os homens são ocultas ou são bastante visíveis. Nas comunicações ocultas os Espíritos têm sobre nós uma influência boa ou má, quer nós queiramos ou não. É nosso dever usar nosso juízo e julgamento para separar as boas inspirações das más inspirações. As comunicações visíveis acontecem pela escrita, pela palavra falada, ou por meio de outras manifestações materiais, onde quase sempre há médiuns atuando como instrumentos dos Espíritos. Os Espíritos se manifestam espontaneamente ou quando são chamados (evocados). Qualquer Espírito pode ser chamado, tanto os Espíritos que foram pessoas desconhecidas na Terra, quanto os Espíritos que foram personagens importantes na Terra, seja qual for a época em que tenham vivido; os Espíritos de nossos parentes, amigos, ou inimigos também podem ser chamados (evocados), e pode-se conseguir deles – por comunicações escritas ou verbais – conselhos, informações sobre a situação em que se encontram no além, informações sobre o que eles pensam a nosso respeito, e outras revelações que eles tenham permissão para fazer. O que atrai e interessa os Espíritos é a simpatia (sintonia) que tenham com a natureza moral (elevação) do ambiente para onde são chamados (evocados). Os Espíritos superiores gostam de reuniões sérias, onde predominam o amor do bem, e o desejo sincero – por parte de quem está reunido – de se educarem e de se melhorarem. Os Espíritos inferiores (imperfeitos) se afastam quando e onde os Espíritos superiores estão presentes; já os Espíritos inferiores (imperfeitos) encontram acesso livre e podem agir com toda a liberdade entre as pessoas frívolas ou movidas apenas por curiosidade, e onde quer que existam maus instintos. Ao invés de fornecerem bons conselhos, ou ensinamentos úteis, os Espíritos inferiores (imperfeitos) oferecem futilidades, mentiras, gracejos de mau gosto, ou se passam por nomes de pessoas importantes do passado com o objetivo de levar ao erro. Separar os Espíritos bons dos Espíritos maus (imperfeitos) é muito fácil. Os Espíritos superiores usam um discurso digno, nobre, da mais alta moralidade, livre de qualquer paixão mais baixa; seus conselhos contém a mais pura sabedoria, querem sempre o nosso melhoramento e o bem da humanidade. O discurso dos Espíritos inferiores (imperfeitos), ao contrário, é inconsequente, é geralmente trivial e é até grosseiro. Pode ser que algumas vezes digam alguma coisa boa e verdadeira, mas a grande maioria das coisas que dizem são mentiras e absurdos, motivados por malícia ou ignorância. Zombam dos homens que acreditam neles, e se divertem à custa das pessoas que fazem perguntas a eles, fazem elogios para agradar as vaidades, e dão falsas esperanças para os desejos e vontades dos encarnados. Em resumo, as comunicações sérias (no significado maior dessa palavra) só acontecem nos centros sérios, onde reina íntima comunhão de pensamentos tendo em vista o bem. A moral dos Espíritos superiores se resume, como a moral do Cristo, nesta máxima evangélica: "Fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem"; isto é, fazer o bem e não o mal. O homem encontra nesse princípio uma regra universal para proceder e agir, mesmo nas menores ações. Os Espíritos superiores nos ensinam que o egoísmo, o orgulho, e a sensualidade [5] são paixões que nos aproximam da nossa natureza animal, e nos prendem à matéria; nos ensinam que se aproximam da natureza espiritual as pessoas que – começando agora já na vida material que já têm – procuram se desligar e se afastar das coisas materiais, sem valorizar as futilidades e as banalidades do mundo, amando ao próximo; nos ensinam que todos devem ser úteis de acordo com os meios que Deus providenciou para cada um; nos ensinam que é obrigação do forte e do poderoso amparar e proteger os mais fracos, nos ensinam que é uma violação da lei de Deus quando um forte e poderoso abusa da força e do poder para oprimir os semelhantes, nos ensinam – por fim – que no mundo dos Espíritos tudo é revelado e nada fica escondido; o hipócrita é desmascarado e surgem todos os seu maus atos, nos ensinam que não se pode fugir da presença constante de todos os outros a quem tenhamos prejudicado, sendo isso um dos castigos (consequência) que nos aguarda pelo mal que tenhamos praticado na Terra; nos ensinam que para cada estado de inferioridade ou de superioridade (do Espírito) há penas e recompensas que nem fazemos ideia na Terra. Mas os Espíritos superiores nos ensinam, também, que não há faltas e erros que não possam ser reparados (através da expiação. Para conseguir a reparação (das faltas e dos erros) há a Providência divina das diferentes existências físicas que permitem ao homem avançar para a perfeição, conforme seus desejos e esforços no caminho da evolução; a perfeição é o destino final de todos (e que será alcançado mais cedo ou mais tarde). |
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Este é o resumo da Doutrina Espírita, segundo os ensinamentos dados pelos Espíritos superiores. Vamos ver, agora, as objeções feitas a isso tudo.
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