Parte I: Causas primárias – Capítulo IV: Princípio vital – Inteligência e instinto
Inteligência e instinto
71. | A inteligência [1] é um atributo do princípio vital? | |||
| – | Não, pois as plantas vivem através do princípio vital e não pensam: as plantas só têm vida orgânica. A inteligência e a matéria (animada pelo princípio vital) são independentes; um corpo pode viver sem a inteligência [2]. Mas a inteligência só pode se manifestar (na matéria) através dos órgãos materiais. É preciso que o espírito esteja unido com a matéria animada (animalizada) para que a matéria possa demonstrar inteligência. | ||
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A inteligência é uma faculdade especial que só algumas classes de seres orgânicos possuem. Através da inteligência os seres orgânicos pensam, tem vontade de agir, tem consciência de suas existências, tem consciência de que são individuais (diferentes dos outros seres orgânicos). Através da inteligência os seres orgânicos se relacionam com o mundo exterior e cuidam de suas necessidades (materiais).
Assim, temos: 1) os seres inanimados, formados de matéria apenas, sem vitalidade (vida) e sem inteligência: são os corpos brutos; 2) os seres animados que não pensam, formados de matéria e possuindo vitalidade (vida), mas sem inteligência (pensante); 3) os seres animados pensantes, formados de matéria e possuindo vitalidade (vida), tendo além disso um princípio inteligente que permite que esses seres pensem. |
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72. | Qual é a fonte da inteligência? | |
| – | Já dissemos: a inteligência universal. |
72a. | É correto dizer que cada ser (inteligente) tira uma porção de inteligência da fonte universal e assimila aquela porção, da mesma forma que o ser tira e assimila de uma fonte universal o princípio vital da vida material? | |
| – | Isto não passa de uma simples comparação e não está correto. A inteligência (pensante) é uma faculdade própria de cada ser e faz parte da individualidade moral de cada ser. Além disso já dissemos que há coisas que não é permitido que o homem conheça, e esse assunto – por enquanto – é uma daquelas coisas. |
73. | O instinto é independente da inteligência? | |
| – | Para ser exato, não é, porque o instinto é uma espécie de inteligência. O instinto é uma inteligência sem raciocínio (não há pensamentos). É através do instinto que todos os seres cuidam de suas próprias necessidades (materiais). |
74. | Existe uma linha que separe o instinto e a inteligência (pensante), isto é, é possível determinar onde um acaba e a outra começa? | |
| – | Não, porque muitas vezes o instinto e a inteligência (pensante) se confundem. Mas é possível dizer quando um ato veio do instinto, e quando um ato veio da inteligência (pensante). |
75. | É correto afirmar que o instinto diminui conforme a inteligência (pensante) aumenta? | |
| – | Não. O instinto sempre existe, mas o homem (então) ignora o instinto. O instinto também pode levar ao bem. Quase sempre o instinto nos guia, e algumas vezes com mais segurança do que a razão guiaria. O instinto nunca se afasta do bom caminho [3]. |
75a. | Por que a razão (raciocínio) erra e nem sempre é um guia que não falha? | |||
| – | A razão não iria falhar se não fosse deturpada pela má educação, pelo orgulho, e pelo egoísmo. O instinto não raciocina; a razão (raciocínio) permite a escolha e dá ao homem o livre-arbítrio. | ||
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O instinto é uma inteligência rudimentar (básica), e diferente da inteligência propriamente dita (que é raciocinada). O instinto quase sempre se manifesta espontaneamente. As manifestações da inteligência (pensante) são o resultado de uma combinação (sic [4]) e de um ato deliberado.
De acordo com cada espécie, e de acordo com as necessidades (materiais) de cada espécie, o instinto varia. Nos seres que tem a consciência e a percepção das coisas exteriores, o instinto se junta com a inteligência (pensante), isto é, se junta com a vontade e com a liberdade (de escolha). |
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[1] Nestes ensinamentos sobre "inteligência e instinto" será estabelecida uma diferença entre "inteligência" e "instinto". Até que essa diferença apareça nestes ensinamentos (questão 73), a palavra "inteligência" significa os dois: "inteligência" e também "instinto", Como é o caso nesta questão.
[2] É o caso das plantas: é um ser orgânico que utiliza o princípio vital (pois tem vida), mas que não possui inteligência.
[3] Isso é muito importante pois os Espíritos usaram a palavra "NUNCA". Isso quer dizer que nas encruzilhadas da vida, quando existir dúvida para tomar uma decisão, devemos sempre escolher o que o instinto diz (por mais absurdo ou doloroso que possa ser), mesmo que a inteligência diga para tomar outra decisão. Por outro lado, se uma decisão for tomada com base no instinto e o tempo acabar demonstrando que a decisão tomada não era a mais acertada, então a conclusão é que a decisão não foi realmente tomada com base no instinto (mesmo que se imagine que sim), e que alguma coisa a mais teve influência na decisão (errada).
[4] Sic Erat Scriptum: traduzido como "assim estava escrito".
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