Parte II: O mundo espírita – Capítulo IV: Múltiplas existências – Transmigrações progressivas
Transmigrações [1] progressivas
189. | O Espírito desfruta totalmente de suas faculdade (capacidades) desde o início de sua formação (como Espírito)? | |
| – | Não, porque para o Espírito também há uma fase de infância, assim como há uma fase de infância para o homem. A vida do Espírito é apenas instintiva na origem do Espírito. O Espírito mal tem consciência de si mesmo e de seus atos. A inteligência do Espírito só se desenvolve pouco a pouco. |
190. | Qual é o estado da alma na sua primeira encarnação? | |
| – | Usando uma comparação, é o estado da infância na vida corporal. A inteligência do Espírito está apenas começando a aparecer: a alma se prepara para a vida (eterna). |
191. | As almas dos selvagens na Terra são almas no estado de infância (espiritual)? | |
| – | Sim, mas em um estado de infância (espiritual) relativa; já são almas desenvolvidas que alimentam paixões. |
191a. | Então as paixões são um sinal de desenvolvimento (do Espírito)? | |||
| – | As paixões são um sinal de desenvolvimento do Espírito, mas não são um sinal de perfeição do Espírito. As paixões são sinais de atividade e de consciência do "eu". Na alma primitiva (iniciando sua jornada), a inteligência e a vida se acham em estado de embrião. | ||
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Em seu conjunto a vida (espiritual) do Espírito tem as mesmas fases que são observadas na vida corporal. O Espírito passa pouco a pouco do estado de embrião para o estado de infância, para chegar – depois de períodos sucessivos – ao estado de adulto (o estado de perfeição); a diferença é que na vida (espiritual) do Espírito não existe declínio ou enfraquecimento causado pela velhice, como existe na vida corporal. A vida (espiritual) do Espírito teve um começo, mas não terá um fim (como a vida corporal tem).
É preciso um tempo imenso (do ponto de vista dos homens) para passar da infância espírita para o completo desenvolvimento do Espírito através de um progresso realizado em mundos diferentes (ao invés de ser realizado em um único mundo).
Portanto a vida (espiritual) do Espírito é feita de uma série de existências corpóreas que representam – cada uma – uma oportunidade para o Espírito progredir (intelectualmente e moralmente), da mesma forma que uma existência corporal é feita de uma série de dias nos quais o homem obtém – em cada dia – alguma experiência e alguma instrução a mais. Na vida do homem há dias que não produzem nada, e na vida (espiritual) do Espírito há existências corporais que não produzem nenhum resultado porque (em ambos os casos) não foram aproveitados como devido. |
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192. | Uma pessoa poderia, já na vida corporal atual, ter um comportamento perfeito e assim subir todos os degraus da escala do aperfeiçoamento, tornando-se um Espírito puro sem passar por todos os graus intermediários da escala espírita? | |
| – | Não, porque aquilo que o homem pensa que é perfeito está longe da perfeição. Existem qualidades (do Espírito) que são desconhecidas pelo homem, e que o homem não pode compreender. Um homem poderá ser tão perfeito quanto a natureza humana permita que o homem seja, mas essa perfeição não é uma perfeição absoluta.
Acontece com os Espíritos a mesma coisa que acontece com as crianças entre os homens. Por mais precoce que uma criança seja, a criança tem que passar pela juventude antes de chegar à maturidade; por comparação, acontece a mesma coisa com os enfermos que tem que passar pela convalescença antes de recuperar a saúde.
Além disso é necessário que o Espírito progrida em ciência (conhecimento) e em moral. Se um Espírito avançou em um sentido, ainda é necessário que o Espírito avance também no outro sentido para atingir o ponto superior da escala espírita.
Porém, quanto mais o homem conseguir avançar (intelectualmente e moralmente) em sua vida corpórea atual, menos penosas (dolorosas) e menos longas serão as provas (existências corporais) pelas quais o homem ainda terá que passar. |
192a. | O homem pode pelo menos usar a vida corpórea que já tem para preparar para si mesmo – com segurança e certeza – uma existência corpórea futura que seja menos carregada de amarguras? | |
| – | Sem dúvida. O homem pode diminuir tanto o comprimento quanto as dificuldades do caminho que o homem ainda tem que percorrer (em sua vida espiritual). Só os homens descuidados permanecem sempre no mesmo lugar. |
193. | Em suas novas existências corporais um homem pode descer para uma posição mais baixa do que a posição que o homem já tenha na existência corporal atual? [2] | |
| – | Em uma nova existência corporal o homem pode descer mais baixo em posição social, mas como Espírito o homem jamais desce para uma posição espiritual mais baixa do que a posição espiritual que o Espírito já alcançou. |
194. | Em uma nova encarnação pode acontecer que a alma de um homem de bem encarne como um homem criminoso? | |
| – | Não, porque para isso acontecer o Espírito teria que andar para trás na escala espírita, e um Espírito jamais anda para trás na escala espírita. |
194a. | A alma de um homem perverso pode tornar-se a alma de um homem de bem? | |||
| – | Sim, se o homem perverso se arrependeu. Esse progresso que o Espírito consegue é – então – uma recompensa (pelo arrependimento). | ||
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A marcha dos Espíritos em direção à perfeição é sempre para a frente; um Espírito jamais anda para trás na escala espírita. Os Espíritos sobem passo a passo na escala espírita e jamais voltam para baixo da posição que já alcançaram na escala espírita. Nas existências corporais os Espíritos podem descer na escala social entre os homens; os Espíritos não descem na escala espírita. Assim, a alma de alguém poderoso na Terra em uma existência corporal pode mais tarde voltar como a alma do mais humilde trabalhador (e vice-e-versa); com muita frequência as posições sociais mais elevadas entre os homens são ocupadas por Espíritos com uma menor elevação moral, e as posições sociais mais humildes entre os homens são ocupadas por Espíritos com uma maior elevação moral: Herodes era um rei, e Jesus era um carpinteiro. |
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195. | Se um Espírito sabe que existe a possibilidade de se aperfeiçoar em uma nova existência (corporal) futura, isso não iria contribuir para que o Espírito adiasse o seu progresso e teimasse no mau caminho que o Espírito está seguindo na sua existência (corporal) atual? | |||
| – | Um homem que pensa assim não acredita em nada e a idéia de um castigo eterno, ou qualquer outra idéia parecida, não iria fazer com que esse homem mudasse seu comportamento porque esse homem também não acredita na idéia de castigo eterno (o raciocínio desse homem rejeita a idéia de um castigo eterno). Por não acreditar (também) em um castigo eterno, esse homem acaba não acreditando em nada mais.
Não haveria tantos incrédulos entre os homens se tivessem sido utilizados apenas meios racionais (lógicos) para guiar os homens. De fato, como está sendo dito, um Espírito imperfeito poderia pensar dessa forma durante sua vida corporal; mas quando esse Espírito estivesse livre da matéria, esse Espírito iria pensar de outra forma e logo iria perceber o erro de cálculo que foi feito e – então – uma forma de pensar oposta àquela (de adiar seu progresso) iria trazer o Espírito de volta para uma nova existência corporal.
É assim que o progresso (espiritual) acontece, e isso explica porque existe tanta desigualdade no adiantamento (intelectual e moral) dos homens na Terra. Alguns homens já tem uma experiência que outros homens (ainda) não tem, mas que será conquistada pouco a pouco. Depende de cada Espírito acelerar seu próprio progresso, e também depende de cada Espírito retardar seu próprio progresso indefinidamente. | ||
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Como Espírito, o homem que ocupa uma posição ruim (na escala espírita) deseja trocar essa posição o mais depressa possível (por uma posição melhor). O homem (Espírito) que está convencido de que as tribulações e dificuldades da vida terrena são uma consequência de suas próprias imperfeições irá procurar garantir para si mesmo uma nova existência futura que seja menos penosa (dolorosa). Essa idéia, essa forma de pensar, irá afastar esse homem do caminho do mal mais do que a idéia de "fogo eterno" poderia afastá-lo; esse homem não acredita em "fogo eterno". |
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196. | Um Espírito não pode se aperfeiçoar e se melhorar a não ser que seja por meio das tribulações e dificuldades da vida corpórea; então, a vida corpórea seria uma espécie de filtro ou purificador (ou peneira) por onde os seres do mundo espírita tem que passar para alcançarem a perfeição? | |
| – | Sim, é exatamente isso. Os Espíritos se melhoram nessas provas (terrenas), evitando o mal e praticando o bem. Mas é somente após muitas encarnações ou depurações sucessivas que os Espíritos chegam ao fim para onde se dirigem, ao término de um tempo mais ou menos longo e conforme os esforços que os Espíritos façam nesse caminho. |
196a. | É o corpo (físico) que influi sobre o Espírito para que o Espírito se melhore, ou é o Espírito que influi sobre o corpo (físico)? | |||
| – | O Espírito é tudo; o corpo físico é apenas uma roupa que o Espírito veste, e que apodrece (na morte física). Isso é tudo. | ||
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Por comparação, o suco das uvas oferece um exemplo dos diferentes graus de depuração da alma. O suco das uvas contém o licor que se chama álcool (o espírito), mas o licor contido no suco das uvas está enfraquecido por uma quantidade grande de matérias estranhas que alteram a essência do licor (o espírito). A essência do licor (o espírito) só chega a um estado absolutamente puro depois de ter passado por múltiplas etapas de destilação (em um alambique). Em cada etapa de destilação a essência do licor (o espírito) perde alguma de suas impurezas (imperfeições). O corpo (físico) é o alambique onde a alma tem que entrar para se purificar (destilação). Assim como o Espírito, o perispírito também contém matérias estranhas (imperfeições), e o perispírito também passa por depurações conforme o Espírito se aproxima da perfeição. |
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