Parte III: Leis morais – Capítulo V: Lei de conservação – Meios de conservação

Livro dos Espíritos: linguagem simplificada - Meios de conservação

 

Meios de conservação

 

704.

Já que o homem recebeu (de Deus) a necessidade de viver, Deus deu para o homem os meios que o homem precisa para conseguir viver (em todos os tempos [1])?

 

Sim. Se o homem não encontra os meios à disposição do homem para viver, é porque o homem não compreende (percebe) aqueles meios à sua disposição (sic [2]). Seria impossível que Deus criasse a necessidade de viver no homem e – ao mesmo tempo – não desse para o homem os meios para o homem conseguir viver. Essa é a razão por que Deus faz a Terra produzir (recursos) de modo a existir na Terra aquilo que é necessário para os seres que vivem na Terra. Só o necessário é útil, o supérfluo nunca é útil  [3].

 

705.

Por que nem sempre a Terra produz o bastante para fornecer o que é necessário para o homem?

 

É que o homem ingrato despreza a Terra! (sic [4]) No entanto, a Terra é uma excelente mãe.

 

Também, muitas vezes o homem acusa a natureza de coisas que são apenas o resultado da imperícia (inabilidade) do homem, ou são apenas o resultado da imprevidência (descuido) do homem. A Terra iria sempre produzir o que é necessário para o homem se o homem soubesse ficar contente com aquilo que é necessário. Se o que a Terra produz não basta para satisfazer todas as necessidades do homem é porque o homem usa os recursos da Terra naquilo que é supérfluo (ao invés de usar no que é necessário aquilo que é usado no que é supérfluo).

 

Olhem o árabe no deserto. O árabe no deserto sempre acha o que ele precisa para viver porque o árabe no deserto não cria para si mesmo necessidades artificiais (não naturais).

 

Já que o homem desperdiça a metade dos produtos (da Terra) para satisfazer as próprias fantasias, existe motivo para o homem se espantar se no dia seguinte o homem não encontra nada (para viver)? Existe motivo para o homem se queixar e dizer que está desprovido (carecido) de tudo quando chegam os dias de penúria (miséria)?

 

Em verdade, dizemos, a natureza não é imprevidente. Imprevidente é o homem que não sabe viver de maneira regrada.

 

706.

Apenas os produtos do solo devem ser considerados como "bens da Terra"?

 

O solo é a fonte principal de onde procedem (vem) todos os outros recursos (da Terra) pois no fim das contas todos os outros recursos da Terra são simples transformações dos produtos do solo. Portanto, por "bens da Terra" deve ser entendido tudo aquilo (recursos) que o homem pode gozar (desfrutar) neste mundo.

 

707.

É comum que falte os meios de subsistência (sobrevivência) para certas pessoas, mesmo quando aquelas pessoas estão cercadas por abundância [5]. Esse tipo de coisa deve ser atribuído a que?

 

Esse tipo de coisa deve ser atribuído ao egoísmo dos homens (que nem sempre fazem o que é uma obrigação dos homens fazerem).

 

Depois, na maioria das vezes aquelas pessoas carentes de meios de subsistência (sobrevivência) devem a situação em que elas se encontram apenas a si mesmas.

 

"Buscai e achareis": essas palavras não querem dizer que basta que o homem olhe para a Terra para que o homem encontre o que o homem deseja. Essas palavras querem dizer que o homem precisa procurar, mas procurar não com indolência (preguiça), e sim procurar com ardor (vontade forte) e perseverança (teimosia), sem desanimar diante dos obstáculos – com bastante frequência aqueles obstáculos são meios que a Providência (divina) usa para experimentar (testar) a constância (insistência), a paciência, e a firmeza do homem [6].

 

 

 

 

Se é certo que a civilização aumenta as necessidades, também é certo que a civilização aumenta as fontes de trabalho e os meios de viver. Mas é forçoso (obrigatório) concordar que ainda resta muito para a civilização fazer a respeito das fontes de trabalho. Quando a civilização tiver terminado sua obra, não deverá existir ninguém que possa se queixar (a não ser por própria culpa) que está faltando o que é necessário.

 

Para muitos a desgraça vem porque algumas pessoas tomam um caminho diferente do caminho que a natureza traçou para aquelas pessoas. Então acontece que falta inteligência para que tais pessoas consigam sucesso. Há um lugar ao sol para todos, mas com a condição de que cada um ocupe o seu próprio lugar, e não o lugar dos outros.

 

A natureza não pode ser responsável pelos defeitos da organização social (dos homens), nem pode ser responsável pelas consequências do amor-próprio (egoísmo) e ambição (dos homens).

 

Entretanto, seria preciso ser cego para não reconhecer o progresso que os povos mais adiantados tem feito a respeito desse assunto. Graças aos louváveis esforços que a filantropia [7] e a ciência juntas não param de fazer para melhorar a condição material dos homens, mesmo com o crescimento incessante das populações a insuficiência da produção (de bens materiais) está atenuada (amenizada) – pelo menos em grande parte.

 

Os anos das maiores calamidades atuais (na produção de bens materiais) não podem ser comparados de modo algum com os anos das maiores calamidades do passado. Por exemplo, atualmente a higiene pública (que é uma coisa tão essencial para a força e a saúde dos homens, e que nossos pais não conheceram) é um assunto que é tratado por pessoas esclarecidas com muita atenção. Atualmente as pessoas com infortúnios (azares) e as pessoas com sofrimentos encontram abrigos onde podem se refugiar (conseguir amparo).  A ciência contribui para fazer o bem-estar crescer por toda parte.

 

Poderia ser dito que a civilização já conseguiu a perfeição? Claro que não, certamente. Mas o que já foi realizado permite que se imagine o que será possível conseguir realizar com perseverança (insistência) – isso se o homem for bastante sensato para procurar a própria felicidade nas coisas positivas e sérias, e não em utopias (sonhos) que fazem com que o homem ande para trás ao invés de andar para frente.

 

 

708.

Não há situações em que os meios de subsistência (sobrevivência) não dependem da vontade do homem de maneira alguma, situações onde a privação (falta) daquilo que o homem precisa mais imperiosamente (urgentemente) é uma consequência da força das coisas (circunstâncias)?

 

Isso é uma prova (dificuldade) – muitas vezes cruel – que cabe ao homem sofrer (suportar); o homem sabia de antemão que estaria (poderia estar) exposto (sujeito) àquelas circunstâncias.

 

O mérito (merecimento) do homem – então – está em se submeter (aceitar) à vontade de Deus, se a inteligência do homem não permitir que o homem encontre algum meio de sair da dificuldade.

 

Se a morte vier para levar o homem (por causa disso), cabe ao homem receber (aceitar) a morte sem reclamar, levando em conta que a (sua) hora da verdadeira libertação chegou, e levando em consideração que o seu próprio desespero no momento derradeiro (da morte física) pode fazer com que o homem perca o fruto (benefício) de toda a sua resignação (aceitação).

 

709.

Há certas situações críticas onde o homem se vê na contingência (necessidade) de sacrificar os seus semelhantes para matar a própria fome. Em tais situações, os homens que sacrificaram os seus semelhantes para matar a própria fome terão cometido um crime (contra a lei de Deus)? Se houve crime, não é um crime atenuado (menor) por causa da necessidade de viver que é um resultado (consequência) do instinto de (auto) conservação?

 

Isso já foi respondido quando foi dito que há mais merecimento em sofrer (suportar) todas as provações (dificuldades) da vida com coragem e abnegação (aceitação). No caso da pergunta, há homicídio e crime de lesa natureza (contrário às leis da natureza), e isso é uma falta (do homem) que é punida em dobro.

 

710.

Nos mundos onde a organização física (corpo físico) é mais apurada (melhor), os seres vivos tem a necessidade de se alimentarem?

 

Tem. Mas naqueles mundos os alimentos estão de acordo com a natureza dos seres vivos. Aqueles alimentos não seriam bastante substanciosos (nutritivos) para os estômagos grosseiros dos homens, assim como os estômagos daqueles seres vivos não poderiam digerir os alimentos dos homens.

 


 

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[1]        Aqui a expressão "em todos os tempos" deve ser entendida como "em todas as épocas e em todas as circunstâncias".

[2]        Sic Erat Scriptum: traduzido como "assim estava escrito".

[3]        Como Deus não cria nada que seja inútil, a conclusão é de que todos os recursos materiais que existem na Terra (e no universo) são úteis, e – portanto – não existe nada que seja supérfluo na Terra (ou no universo). Ver também questão 715 a 717 sobre "o necessário e o supérfluo".

[4]        Sic Erat Scriptum: traduzido como "assim estava escrito". Não está perfeitamente claro o que os Espíritos superiores quiseram dizer com isso.

[5]        Por exemplo, favelas cercadas por (ou ao lado de) bairros nobres em cidades grandes.

[6]        Ver também questão 534.

[7]        FILANTROPIA: amor excessivo pela humanidade; caridade; demonstração de generosidade; tendência para ajudar os mais necessitados; falta de interesse.

 

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