Parte III: Leis morais – Capítulo VIII: Lei do progresso – Povos degenerados
Povos degenerados
786. | A história mostra que muitos povos recaíram (voltaram) para um estado de bárbaros depois que aqueles povos foram profundamente afetados por abalos (tragédias) [1]. Neste caso, onde está o progresso? | |
| – | Quando a casa em que o homem mora está ameaçando cair, o homem manda demolir a casa e constrói outra casa mais sólida e mais confortável. Mas enquanto a casa nova não fica pronta, há uma época de perturbação e de confusão na casa do homem.
Mais uma coisa deve ser compreendida (entendida): se um homem que era pobre e morava em um casebre fica rico, aquele homem deixa o casebre para ir morar em um palácio. Então, um outro pobre diabo – que está nas mesmas condições em que aquele homem (agora rico) estava – vem pegar o casebre, ficando muito contente com o casebre porque antes aquele pobre diabo estava sem ter um lugar para se abrigar.
Esses dois exemplos, essas duas situações representam o que acontece com os Espíritos. Os Espíritos encarnados que formam um povo degenerado não são os mesmos Espíritos que estavam encarnados naquele povo durante a época em que aquele povo estava em seu tempo de esplendor. Os Espíritos que estavam encarnados naquele povo – durante a época de esplendor daquele povo – progrediram e se adiantaram (espiritualmente), e passaram (foram) para habitações (mundos) mais perfeitas. Então, outros Espíritos menos adiantados tomaram aqueles lugares que ficaram vagos no meio daquele povo; irá chegar um dia em que esses Espíritos menos adiantados, por sua vez, também terão que deixar aqueles lugares vagos que eles tomaram (ocuparam) no meio daquele povo. [2] |
787. | Não há raças (povos) rebeldes ao progresso por natureza? | |
| – | Há, mas os seres daquelas raças (povos) vão se aniquilando (matando) corporalmente todos os dias. |
787a. | Qual será a sorte futura das almas que animam essas raças (rebeldes ao progresso)? | |
| – | Como todas as outras almas, aquelas almas irão chegar à perfeição, passando por outras existências (físicas). Deus não deserda (abandona) ninguém. |
787b. | Então pode ser que os homens mais civilizados já tenham sido selvagens e antropófagos (canibais)? | |
| – | Todo homem já foi um selvagem mais do que uma vez antes do homem chegar a ser o que o homem é. |
788. | Os povos são individualidades coletivas, e os povos – assim como os indivíduos – passam por uma fase de infância, por uma idade de maturidade, e por uma época de decadência. Já que essa é uma verdade que a história comprova, deve ser suposto (imaginado) que os povos mais adiantados da atualidade irão ter o seu declínio e a sua extinção (desaparecimento) da mesma forma que já aconteceu com os povos da antiguidade? | |
| – | Os povos que vivem a vida do corpo (físico) apenas, os povos que tem uma grandeza apoiada unicamente na força e na extensão territorial, crescem e morrem porque a força de um povo acaba assim como a força de um homem acaba.
Aqueles povos que tem leis egoístas que atrapalham o progresso das luzes e da caridade morrem porque a luz mata as trevas e a caridade mata o egoísmo (sic [3]).
Mas para os povos existe a vida da alma [4], assim como para os indivíduos existe a vida da alma. Aqueles povos que tem leis que se harmonizam (concordam) com as leis do Criador irão viver (mais) e irão servir de farol (guia) para os outros povos. [5] |
789. | O progresso fará com que todos os povos da Terra se achem um dia reunidos, formando uma só nação? | |
| – | Uma nação única, não. Uma nação única na Terra seria uma coisa impossível, visto que as nacionalidades (povos) tem costumes e necessidades diferentes por causa da diversidade dos climas. Aqueles costumes e necessidades diferentes tornam indispensáveis as leis que sejam apropriadas (melhores) para aqueles costumes e necessidades.
Porém, a caridade não conhece os limites geográficos (fronteiras) e não se importa com a cor (da pele) dos homens. Quando a lei humana estiver inteiramente baseada na lei de Deus em todas as partes da Terra, os povos e os indivíduos irão praticar a caridade entre si mesmos. Então os homens irão viver felizes e em paz porque nenhum homem se irá se preocupar em causar prejuízo para o seu vizinho, nenhum homem irá se preocupar em viver às custas de outro homem. |
| A humanidade progride por meio dos indivíduos que pouco a pouco se melhoram e se esclarecem. Quando os indivíduos que se melhoram e se esclarecem estão em maior número, aqueles indivíduos tomam a dianteira e arrastam (puxam) os outros homens (na mesma direção). De tempos em tempos surgem homens de gênio no meio dos outros homens, e aqueles homens de gênio dão um impulso para os outros homens. Além disso, como instrumentos de Deus aparecem no meio dos homens outros homens de autoridade que fazem a humanidade se adiantar em alguns anos tanto quanto a humanidade iria se adiantar em muitos séculos.
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O progresso dos povos também realça (destaca) a justiça da reencarnação. Os homens de bem fazem esforços louváveis para que uma nação (povo) se adiante moralmente e intelectualmente. É de se imaginar (supor) que uma nação (povo) transformada (melhorada intelectualmente e moralmente) será uma nação mais ditosa (feliz) neste mundo físico e no mundo espiritual.
Mas durante a marcha lenta dos homens através dos séculos milhares de indivíduos morrem todos os dias. Qual é a sorte de todos os homens que sucumbem (morrem) ao longo do trajeto (antes de poderem se melhorar)? A inferioridade relativa daqueles homens irá privar aqueles homens da felicidade reservada para os outros homens que chegam por último (e tiveram oportunidade de se melhorar)? Ou será que a felicidade que cabe para aqueles homens (que morreram ao longo do trajeto) é relativa também? Não é possível que a justiça divina tenha aprovado uma injustiça dessas. Com a pluralidade das existências (físicas) o direito à felicidade é igual para todos os homens porque ninguém fica deserdado (impedido) do progresso (espiritual). Todos os homens tiram proveito da marcha do progresso pois os homens que viveram nos tempos bárbaros (e sem oportunidades para se melhorarem) podem retornar (para a Terra) em uma outra época de civilização, vivendo no meio do mesmo povo ou vivendo no meio de um outro povo.
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Sobre esse assunto o sistema (teoria) de uma única existência física apresenta outra dificuldade (questão). Segundo o sistema (teoria) de uma única existência física, a alma (Espírito encarnado) é criada no momento em que o ser humano nasce (fisicamente). Então, se um homem é mais adiantado que outro homem é, é porque Deus criou uma alma mais adiantada para aquele homem mais adiantado. Por que esse favor? Que merecimento tem aquele homem mais adiantado para receber uma alma superior se aquele homem mais adiantado não chegou a viver mais do que um outro homem menos adiantado (e que talvez tenha até vivido menos)? Mas essa dificuldade (questão) do sistema (teoria) de uma única existência física não é a dificuldade principal.
Em mil anos uma civilização (povo) vai do estado de bárbaros para o estado de civilização. Se um homem pudesse viver (fisicamente) durante mil anos, seria possível imaginar que o homem teria tempo de progredir durante aqueles mil anos. Mas todos os dias criaturas de todas as idades estão morrendo. As criaturas se renovam na face do planeta sem parar, de tal forma que todos os dias aparecem na Terra uma multidão de (novas) criaturas, e todos os dias desaparecem da Terra uma outra multidão de criaturas. No fim de mil anos não existe em uma nação (civilização) qualquer vestígio (traço) dos habitantes antigos daquela nação. Mas mesmo assim aquela nação passou do estado de bárbaros para o estado de civilização. Onde aconteceu o progresso daquela nação? O progresso daquela nação aconteceu nos indivíduos que eram bárbaros? Mas os indivíduos que eram bárbaros morreram há muito tempo. O progresso daquela nação aconteceu nos indivíduos recém-chegados no meio daquela nação? Mas se as almas dos indivíduos recém-chegados foram criadas no momento em que os homens nasceram, então aquelas almas não existiam na época de estado bárbaro da nação (civilização), e – então – será forçoso (obrigatório) concordar que os esforços que são feitos (pela espiritualidade) para civilizar um povo não teriam o poder de melhorar almas imperfeitas, e teriam – ao invés disso – o poder de fazer com que Deus crie almas mais perfeitas.
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Vamos comparar esta teoria de progresso (acima) com a teoria (explicação) que os Espíritos (superiores) apresentaram. As almas vindas (nascidas) no tempo da civilização tiveram um período de infância assim como todas as outras almas tiveram. As almas vindas (nascidas) no tempo da civilização já tinham vivido antes e estão adiantadas como uma consequência do progresso que aquelas almas já tinham realizado antes. Aquelas almas nascem (no meio de um povo) quando aquelas almas são atraídas por um meio (ambiente) que é simpático (está em sintonia) para aquelas almas, um meio (ambiente) que tem relação com o estado (espiritual) em que aquelas almas se encontram (na escala espírita [6]). Assim os cuidados que são dispensados (pela espiritualidade) para a civilização (progresso) de um povo não tem como consequência (objetivo) fazer com que almas mais perfeitas sejam criadas. Os cuidados que são dispensados (pela espiritualidade) para a civilização (progresso) de um povo tem o objetivo de atrair almas que já progrediram para nascerem no meio de um povo, quer tais almas já tenham vivido no meio daquele povo durante a época do estado de bárbaros daquele povo ou quer aquelas almas venham de outra parte (mundo).
Aqui aparece igualmente a chave para o progresso da humanidade inteira. A Terra será um ponto de reunião de Espíritos bons que irão viver fraternalmente unidos apenas quando todos os povos estiverem no mesmo nível (espiritual) no que diz respeito ao sentimento do bem. Então, os Espíritos maus (imperfeitos) irão se sentir deslocados e rejeitados no meio da humanidade, e aqueles Espíritos maus (imperfeitos) irão – então – procurar em mundos inferiores o meio que agrada àqueles Espíritos maus (imperfeitos), até que aqueles Espíritos maus (imperfeitos) estejam transformados (melhorados) e sejam dignos (merecedores) de voltar para viver na Terra.
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A teoria vulgar (de uma única existência física) ainda quer dizer que os trabalhos de melhoria social só serão aproveitados pelas gerações presentes e futuras, não produzindo nenhum resultado (benefício) para as gerações passadas que cometeram o "erro" de terem vivido muito cedo e que tem que permanecer sendo o que podem ser (imperfeitas), sobrecarregadas com o peso dos atos bárbaros que aquelas gerações passadas cometeram.
Segundo a doutrina (teoria) dos Espíritos (superiores), os progressos realizados mais recentemente beneficiam as gerações passadas da mesma forma, pois aquelas gerações passadas podem voltar para a Terra para viver em condições melhores, e podem – assim – se aperfeiçoar no abrigo (ambiente) da civilização [7]. |
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[2] Esse mesmo processo de progresso dos Espíritos explica a ascensão e queda dos impérios e das civilizações.
[3] Sic Erat Scriptum: traduzido como "assim estava escrito".
[5] Os Espíritos superiores indiretamente responderam à pergunta de Allan Kardec e indiretamente confirmaram que os povos mais adiantados atualmente irão desaparecer um dia. O tempo que uma civilização (povo) dura depende do grau de adiantamento espiritual daquela civilização: se uma civilização (povo) está mais próxima das leis de Deus, aquela civilização (povo) pode durar mais para servir de exemplo e modelo para outras civilizações (povos) menos adiantados.
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