Parte III: Leis morais – Capítulo X: Lei de liberdade – Liberdade de consciência

Livro dos Espíritos: linguagem simplificada - Liberdade de consciência

 

Liberdade de consciência

 

835.

A liberdade de consciência é uma consequência da liberdade de pensar? [1]

 

A consciência é um pensamento íntimo que pertence ao homem como todos os outros pensamentos.

 

836.

O homem tem o direito de criar embaraços (atrapalhar) para a liberdade de consciência dos outros homens?

 

Não, da mesma forma que o homem não tem o direito de criar embaraços (atrapalhar) para a liberdade de pensar dos outros homens. Só Deus tem o direito de julgar a consciência dos homens.

 

Os homens com suas leis regulam (colocam ordem) as relações de homem para homem. Deus com leis da natureza [2] regula as relações entre o homem e Ele.

 

837.

Qual é a consequência dos embaraços (obstáculos) que o homem venha a criar para liberdade de consciência dos outros homens?

 

Quando há embaraços (obstáculos) para a liberdade de consciência do homem, o homem é constrangido (forçado) a agir em desacordo com o seu modo de pensar, e – assim – o homem se torna um hipócrita. A liberdade de consciência é um dos caracteres (traços) da civilização verdadeira e do progresso (moral dos homens).

 

838.

Toda e qualquer crença merece respeito mesmo que a crença seja evidentemente falsa?

 

Toda crença merece respeito quando aquela crença é sincera e quando aquela crença conduz (incentiva) à prática do bem. As crenças que levam para o mal é que são condenáveis.

 

839.

Se um homem usa sua crença como motivo para ofender um outro homem que não pensa como ele, aquele homem merece repreensão (condenação) por causa daquela ofensa?

 

Isso (ofensa) é faltar com a caridade e atentar contra a liberdade de pensamento. [3]

 

840.

Se obstáculos (repressão) são criados para crenças que podem causar perturbações (problemas) na sociedade, a criação daqueles obstáculos é um atentado contra a liberdade de consciência?

 

Esses obstáculos podem ser criados para reprimir os atos de uma crença, mas a crença (pensamento) íntima do homem não pode ser conhecida de fato pelos outros homens. [4]

 

 

 

 

Reprimir os atos exteriores de uma crença que causem qualquer prejuízo a terceiros não é atentar contra a liberdade de consciência, pois aquela repressão não tira (diminui) em nada a liberdade da crença (que permanece inteira).

 

 

841.

Deve ser permitido que as doutrinas (crenças) perniciosas (más) se propaguem (espalhem) para respeitar a liberdade de consciência? Ou – por outro lado – é possível tentar trazer para o caminho da verdade aqueles homens que se perderam obedecendo a princípios falsos (sem atentar contra a liberdade de consciência ao fazer isso)?

 

Certamente o homem pode tentar trazer para o caminho da verdade aqueles homens que se perderam obedecendo a princípios falsos, e o homem até deve fazer isso. Mas o homem deve fazer isso seguindo o exemplo de Jesus, usando brandura (suavidade) e persuasão (convencimento) ao invés de usar a força; o uso da força seria pior do que a crença das pessoas que se deseja convencer.

 

Se existe uma coisa que pode ser imposta, essa coisa é o bem e a fraternidade. Mas – mesmo assim – não acreditamos que a melhor forma de fazer com que os homens aceitem o bem e a fraternidade seja usando a ação violenta. Um homem não pode ser convencido por imposição (à força).

 

842.

Todas as doutrinas (crenças) têm a pretensão de ser a expressão única da verdade. Então, quais indícios (sinais) podem ser usados para reconhecer a doutrina (crença) que tem o direito de se dizer como sendo a expressão única da verdade?

 

A doutrina (crença) que tem o direito de se dizer como sendo a expressão única da verdade é aquela doutrina (crença) que mais produz homens de bem, é aquela doutrina (crença) que produz menos homens hipócritas; isto é, pela prática da lei de amor e de caridade na sua forma mais pura e na sua aplicação mais ampla (geral).

 

Esses são os indícios (sinais) através dos quais uma doutrina (crença) pode ser reconhecida como sendo uma doutrina (crença) boa. Toda doutrina que cause a desunião entre os homens e que cause a criação de linhas de separação entre os filhos de Deus não pode deixar de ser uma doutrina (crença) falsa e perniciosa (má).

 


 

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[1]

Ver questão 833 a 834 sobre "liberdade de pensar".

 

[3]

Ver também questão 655.

 

[4]

Ver também questão 833. Ver também questão 835.

 

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