Parte III: Leis morais – Capítulo X: Lei de liberdade – Livre-arbítrio (livre escolha)
843. | O homem tem o livre-arbítrio (livre escolha) em seus atos? | |
| – | O homem tem liberdade para agir, pois o homem também tem a liberdade para pensar. Sem o livre-arbítrio (livre escolha) o homem seria uma máquina. |
844. | O homem goza (dispõe) do livre-arbítrio (livre escolha) desde o seu nascimento (berço)? | |
| – | O homem tem liberdade para agir desde que o homem tenha vontade para agir. A liberdade do homem quase não existe nas primeiras fases da vida (física) do homem. A liberdade do homem se desenvolve (aumenta) e muda de objeto (foco) conforme as faculdades (capacidades) do corpo físico se desenvolvem (formam) [1]. Os pensamentos de uma criança estão de acordo com a idade da criança, e a criança aplica (usa) o livre-arbítrio (livre escolha) naquilo que a criança pensa que ela precisa. |
845. | As predisposições (inclinações) instintivas que o homem traz com ele mesmo quando o homem nasce não são obstáculos para o exercício (uso) do livre-arbítrio (livre escolha) do homem? | |
| – | As predisposições (inclinações) instintivas do homem são aquelas do Espírito (do homem) antes de encarnar. Conforme o Espírito encarnado no homem seja mais ou menos (moralmente) adiantado, as predisposições (inclinações) instintivas do homem podem arrastar o homem para a prática de atos repreensíveis (condenáveis), e – neste caso – o homem irá receber ajuda de Espíritos que simpatizam com aquelas disposições (inclinações) do homem. Mas não existe arrastamento (tentação) que seja irresistível desde que o homem tenha vontade (determinação) para resistir [2]. Lembrem-se: "querer é poder". |
846. | O organismo (corpo físico) não exerce qualquer influência sobre os atos do homem na vida (física)? Se tal influência do organismo (corpo físico) sobre os atos do homem na vida (física) existe, essa influência não age de forma a prejudicar o livre-arbítrio (livre escolha) do homem? [3] | |
| – | Não se pode negar que a matéria (do corpo físico) tem influência sobre o Espírito. A influência da matéria (do corpo físico) pode atrapalhar as manifestações do Espírito [4]. Por isso é que as faculdades (capacidades) do Espírito se manifestam mais livremente nos mundos onde os corpos (físicos) são menos materiais (grosseiros) do que os corpos (físicos) da Terra.
Porém, não é o instrumento (corpo físico) que cria as faculdades (capacidades) do Espírito. Além disso, é preciso considerar a diferença entre as faculdades morais e as faculdades intelectuais do homem.
Se um homem tem o instinto de um assassino, é o Espírito daquele homem que tem – sem dúvida – o instinto de um assassino. É o Espírito de tal homem quem dá o instinto de assassino para o homem [5]. Igual a um bruto (selvagem) – e até mesmo pior do que um bruto – tal homem se torna – então – um homem que alimenta o pensamento de assassino (levando em conta apenas a matéria). Um homem que alimenta o pensamento de assassino não está mais se preocupando em se prevenir contra o mal. É nisto (falta de prevenção contra o mal) que tal homem comete uma falta, pois tal homem está fazendo aquilo por vontade própria. |
847. | A imperfeição das faculdades (capacidades) do homem [6] não tira o livre-arbítrio (livre escolha) do homem? | |
| – | Um homem que tem sua inteligência turvada (prejudicada) por uma causa qualquer já não é senhor (dono) do seu próprio pensamento e – por isso – aquele homem já não tem liberdade (total). [7]
Uma imperfeição das faculdades (capacidades) de um homem muitas vezes é uma punição (prova) para o Espírito daquele homem – talvez aquele Espírito tenha sido fútil (leviano) e orgulhoso em uma existência física anterior que aquele Espírito teve, e talvez aquele Espírito tenha feito mau uso das suas faculdades (capacidades). Nesses casos, o Espírito pode renascer em uma nova existência física como um idiota, ou o Espírito de um tirano pode renascer em uma nova existência física como um escravo, ou o Espírito de um mau rico pode renascer em uma nova existência física como um mendigo.
Porém, em todos esses casos o Espírito (encarnado no homem) sofre por causa do constrangimento (limitação) pelo qual o homem está passando, pois o Espírito (do homem) tem consciência perfeita daquele constrangimento (limitação). Essa é que é a ação da matéria (do corpo físico) sobre o Espírito. |
848. | A imperfeição que a embriaguez causa nas faculdades (capacidades) intelectuais (raciocínio) do homem pode ser usada como uma desculpa para os atos reprováveis que o homem realiza quando o homem está em estado de embriaguez? | |
| – | Não, porque o homem bêbado se privou da sua razão (raciocínio) por vontade própria para satisfazer suas paixões brutais (selvagens). Tal homem comete duas faltas ao invés de cometer apenas uma falta. |
849. | O que é que predomina (é mais forte) no homem em estado selvagem: o instinto, ou o livre-arbítrio (livre escolha)? | |
| – | O instinto predomina (é mais forte) no homem em estado selvagem, mas isso não impede o homem selvagem de agir com liberdade total no que diz respeito a certas coisas (sic [8]). O homem selvagem é como uma criança que usa a liberdade que ele tem para as suas necessidades (materiais).
A liberdade do homem aumenta junto com a inteligência do homem. Portanto, o homem que é mais esclarecido do que um selvagem, também é mais responsável do que um selvagem é responsável pelos seus próprios atos. |
850. | A posição social do homem também não é às vezes um obstáculo para a inteira liberdade do homem nos atos que o homem realiza? | |
| – | Sem dúvida alguma o mundo tem suas exigências. Deus é justo e leva tudo em conta (incluindo aquelas exigências). Entretanto, Deus deixa para o homem a responsabilidade que o homem tiver pelo pouco esforço que o homem fizer para vencer aqueles obstáculos. |
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Portanto, pela resposta dos Espíritos superiores as predisposições (inclinações) instintivas que o homem traz com ele mesmo quando o homem nasce NÃO são obstáculos para o exercício (uso) do livre-arbítrio (livre escolha) do homem, pois o homem pode usar o seu livre-arbítrio (livre escolha) para resistir às inclinações que o homem possa trazer com ele mesmo ao nascer. |
Essa pergunta de Allan Kardec é praticamente igual à pergunta anterior (845). A diferença é que na questão anterior Allan Kardec pergunta sobre a influência das inclinações instintivas do homem sobre o livre-arbítrio (livre escolha) do homem, e nesta pergunta Allan Kardec pergunta sobre a influência do corpo físico sobre o livre-arbítrio (livre escolha) do homem. Portanto, a resposta dada pelos Espíritos superiores para a pergunta anterior também se aplica à esta pergunta de Allan Kardec: "não existe arrastamento (tentação) que seja irresistível desde que o homem tenha vontade (determinação) para resistir". Ver também questão 847. |
No caso os Espíritos superiores estão usando o "assassinato" como um exemplo (apenas) de uma inclinação (instinto) má do Espírito do homem. O que os Espíritos superiores estão dizendo sobre o "instinto de assassino" pode ser dito sobre qualquer outra inclinação (instinto) má do homem. |
Portanto, a imperfeição das faculdades (capacidades) do homem prejudica o livre-arbítrio (livre escolha) do homem (já que – então – o homem não tem liberdade total), mas aquela imperfeição não tira o livre-arbítrio (livre escolha) do homem. |
Sic Erat Scriptum: traduzido como "assim estava escrito". |
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