Parte II: O mundo espírita – Capítulo VI: Vida espírita – As relações no além-túmulo
As relações no além-túmulo
274. | Já que existem ordens (graus) diferentes de Espíritos, então existe também alguma hierarquia de poderes (entre os Espíritos)? Existem autoridades e subordinados entre os Espíritos? | |
| – | Existe uma hierarquia de poderes muito grande entre os Espíritos. A autoridade que um Espírito tem sobre os outros Espíritos depende do grau de superioridade (moral) que o Espírito tenha alcançado, e um Espírito exerce (impõem) essa autoridade sobre os outros Espíritos por meio de uma ascendência (poder) moral irresistível. |
274a. | Os Espíritos inferiores podem escapar da autoridade dos outros Espíritos que são superiores a eles? | |
| – | Nós dissemos "irresistível": ascendência (poder) moral irresistível. |
275. | O poder e a consideração que um homem teve na Terra dão alguma superioridade ao Espírito (daquele homem) no mundo dos Espíritos? | |
| – | Não. Os pequenos (entre os homens) serão elevados (entre os Espíritos) e os grandes (entre os homens) serão rebaixados (entre os Espíritos). Leia os Salmos. |
275a. | Como devemos entender essa elevação e esse rebaixamento? | |
| – | Não é (já) conhecido que os Espíritos são de ordens (graus) diferentes, conforme os méritos (morais) que os Espíritos tenham? Pois então, o maior (homem) da Terra pode pertencer à uma categoria (ordem) mais baixa entre os Espíritos, enquanto que um servo (empregado) daquele homem pode ser um Espírito que esteja em uma categoria (ordem) bem mais alta. É possível entender isso? Jesus já não disse "aquele que se humilhar será exaltado e aquele que se exaltar será humilhado"? |
276. | Um homem que foi grande na Terra, e que – como Espírito – percebe (após a morte física) que está entre os Espíritos de ordem inferior, experimenta alguma humilhação com isso? | |
| – | Às vezes o Espírito experimenta uma humilhação bem grande, principalmente se aquele homem era um homem orgulhoso e invejoso. |
277. | Quando – depois da batalha (sic [1]) – um soldado se encontra no mundo dos Espíritos com o seu general, o soldado ainda pensa que o general é seu superior? | |
| – | Os títulos dos homens não valem nada, a superioridade real (moral) é que tem valor. |
278. | Os Espíritos das diferentes ordens (da escala espírita [2]) estão misturados uns com os outros (no mundo espírita)? [3] | |||
| – | Sim e não. Quer dizer, os Espíritos se veem, mas os Espíritos percebem as diferenças (morais) que existem entre eles. Os Espíritos se afastam ou se aproximam conforme a simpatia ou a antipatia [4] que tenham uns pelos outros, da mesma forma que acontece entre os homens. O mundo dos homens é um exemplo pequeno do mundo que os Espíritos fazem parte.
Os Espíritos da mesma categoria (grau da escala espírita) se reúnem por uma espécie de afinidade, e formam – assim – grupos ou famílias, unidos pelos laços da simpatia e pelos objetivos que querem atingir: os Espíritos bons se reúnem pelo desejo de fazer o bem; os Espíritos maus (imperfeitos), se reúnem pelo desejo de fazer o mal, se reúnem pela vergonha [5] de suas faltas (erros), e se reúnem pela necessidade [6] de estar entre Espíritos parecidos (moralmente) com eles mesmos. | ||
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Por comparação, em uma cidade grande os homens de todas as classes sociais e de todas as condições se encontram e se veem pelos lugares, sem se confundirem uns com os outros; as sociedades (grupos) são formados por pessoas que tem os mesmos gostos (e pensamentos); a virtude e o vício vivem próximos lado a lado, sem trocarem palavra (sem contato direto um com o outro). |
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279. | Todos os Espíritos tem livre acesso aos diferentes grupos ou sociedades que existem no mundo espírita? | |
| – | Os Espíritos bons podem ir a todos os lugares, e deve ser assim para que os Espíritos bons possam influir sobre os Espíritos maus (imperfeitos). Mas as regiões que são habitadas pelos Espíritos bons estão fechadas (proibidas) para aos Espíritos imperfeitos, a fim de que os Espíritos imperfeitos não perturbem aquelas regiões com suas paixões inferiores. |
280. | Qual é a natureza das relações entre os Espíritos bons e os Espíritos maus (imperfeitos)? | |
| – | Os Espíritos bons se ocupam em combater as más inclinações (tendências) dos Espíritos maus (imperfeitos), a fim de ajudar aqueles Espíritos (imperfeitos) a subir (progredir). É uma missão (dever) que os Espíritos bons tem. |
281. | Por que os Espíritos inferiores sentem prazer em conduzir os homens para o mal? | |
| – | Porque os Espíritos inferiores sentem despeito já eles que não fizeram por merecer para estar entre os Espíritos bons. Os Espíritos inferiores desejam impedir – tanto quanto possam – que os Espíritos ainda inexperientes alcancem o bem supremo (maior). Os Espíritos inferiores querem que os outros Espíritos passem por aquilo que eles passam. Não acontece a mesma coisa entre os homens? |
282. | Como os Espíritos se comunicam entre si? | |
| – | Os Espíritos se veem uns aos outros, e se compreendem uns aos outros. A palavra (necessária para os homens) é um reflexo material (a escrita, a fala [7]) do pensamento do Espírito. Os Espíritos estão se comunicando entre si mesmos o tempo todo, utilizando o "fluído universal" [8] para isso. O "fluído universal" é o veículo da transmissão do pensamento, da mesma forma que o ar é o veículo da transmissão dos sons na Terra. O "fluído universal" é uma espécie de telégrafo universal que liga todos os mundos, e que permite que os Espíritos se comuniquem entre si mesmo que os Espíritos estejam em mundos diferentes. |
283. | Um Espírito pode esconder seus pensamentos dos outros Espíritos? Um Espírito pode se esconder de outros Espíritos? | |
| – | Não. Tudo fica às claras para os Espíritos, ainda mais para os Espíritos perfeitos. Os Espíritos podem se afastar uns dos outros, mas de forma geral os Espíritos sempre se veem uns aos outros; alguns Espíritos [9] podem muito bem se esconder de outros Espíritos se isso for útil (de alguma forma). |
284. | Os Espíritos não tem mais um corpo (físico), então como um Espírito pode perceber sua individualidade e saber que ele é diferente dos outros seres espirituais ao seu redor? | |
| – | Nesse sentido, o perispírito é para o Espírito o que o corpo físico é para os homens (por comparação apenas). É através do seu perispírito que um Espírito percebe sua individualidade. É o perispírito que torna um Espírito diferente dos outros Espíritos [10]. |
285. | Os Espíritos que viveram na Terra se reconhecem? O filho reconhece o pai, o amigo reconhece o seu amigo? | |
| – | Perfeitamente, e – assim – de geração em geração. |
285a. | Como é que os Espíritos que se conheceram na Terra se reconhecem no mundo dos Espíritos? | |||
| – | O Espírito vê sua vida passada como se estivesse lendo um livro. Quando o Espírito vê as vidas passadas de seus amigos e de seus inimigos, o Espírito vê a passagem de cada um deles de uma vida corporal para a outra [11]. | ||
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Se for necessário, os Espíritos também podem se reconhecer pela aparência (física) que os Espíritos tinham quando os Espíritos estavam vivos (encarnados) [12]. Quando um Espírito desencarna, o Espírito ainda não está completamente familiarizado com o seu novo estado, e os Espíritos que vem receber o Espírito recém desencarnado aparecem [13] para o recém desencarnado com uma forma (aparência) que o recém chegado seja capaz de reconhecer [14]. |
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286. | Quando a alma deixa seus restos mortais (corpo físico), a alma vê imediatamente os parentes e os amigos que voltaram antes dela para o mundo dos Espíritos? | |
| – | Imediatamente nem sempre é o termo próprio. Como já dissemos, a alma (Espírito) precisa de algum tempo para que a alma se reconheça a si mesma e para ficar livre da cortina material (que atrapalha as percepções da alma). |
287. | Quando a alma retorna para o mundo dos Espíritos (após a morte do corpo físico), como a alma é recebida (pelos outros Espíritos)? | |
| – | A alma do (homem) justo é recebida como um irmão bem-amado que estava sendo esperado (de volta ao mundo dos Espíritos) há muito tempo. A alma do (homem) mau é recebida como um ser que merece desprezo. |
288. | O que os Espíritos impuros sentem quando aqueles Espíritos percebem a chegada de outro Espírito mau (recém desencarnado) entre eles? | |
| – | Os Espíritos maus (impuros, imperfeitos) ficam satisfeitos quando eles veem seres que são parecidos com eles (e como eles próprios, impedidos de aproveitar a felicidade infinita). É como um bandido (na Terra) retornando para o meio do seu bando. |
289. | Nossos parentes e amigos (já desencarnados) costumam vir nos receber quando desencarnamos e deixamos a Terra? | |
| – | Sim, os Espíritos (já desencarnados) vão encontrar a alma (recém desencarnada) por quem aqueles Espíritos tem afeição. Os Espíritos dão felicitações para a alma (recém desencarnada) como se fosse uma pessoa retornando de uma viagem (cheia de perigos dos quais a alma escapou). Aqueles Espíritos que vão receber a alma (recém desencarnada) ajudam aquela alma a se desprender das ligações da alma com o corpo físico.
O encontro da alma (recém desencarnada) com os Espíritos desencarnados que a alma ama é uma graça concedida para os Espíritos bons.
A alma (recém desencarnada) de um homem mau fica sozinha (isolada), ou fica rodeada de Espíritos desencarnados que se parecem (moralmente) com ela mesma; isso é uma punição para a alma (recém desencarnada) de um homem mau. |
290. | Os parentes e amigos sempre se reúnem depois da morte? | |
| – | Isso depende da elevação (moral) deles e depende do caminho que eles seguem procurando progredir.
Se um Espírito está mais adiantado e caminha mais depressa do que outro Espírito, aqueles dois Espíritos não podem (conseguem) mais permanecer juntos. Aqueles Espíritos poderão se ver (encontrar) de vez em quando, mas não estarão reunidos para sempre. Aqueles Espíritos irão se reunir (novamente) quando puderem caminhar lado a lado, ou quando aqueles Espíritos estiverem no mesmo grau de perfeição (evolução) [15].
Além disso, o impedimento que um Espírito pode ter para encontrar os parentes e amigos às vezes é uma punição para o Espírito. |
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[1] Sic Erat Scriptum: traduzido como "assim estava escrito".
[3] Na Terra (e nos outros mundos), os Espíritos (encarnados) das diferentes ordens (da escala espírita) sempre estão misturados uns com os outros.
[4] A simpatia e a antipatia entre os Espíritos é do mesmo tipo da simpatia e da antipatia entres os homens: é determinada pela "sintonia" que existe entre eles, e essa "sintonia" é determinada pela afinidade de pensamentos e sentimentos. Em outras palavras, "os iguais se atraem" (tanto entre os homens quanto entre os Espíritos).
[5] Os Espíritos imperfeitos se reúnem pela vergonha que sentem de seus erros e também pela natureza de seus erros: os invejosos se reúnem com outros invejosos, os orgulhosos e reúnem com outros orgulhosos, e assim por diante.
[6] Isso é muito importante: um Espírito sente necessidade de estar entre outros Espíritos que tenham a mesma natureza que o Espírito tem, e isso torna ainda mais difícil para o Espírito se livrar de uma imperfeição que o Espírito tenha. Por comparação, um homem que sinta necessidade (goste) de estar entre ladrões terá muita dificuldade para deixar de roubar (mesmo que deseje deixar de roubar).
[7] A palavra existe entre os homens porque a palavra é o único instrumento que os homens tem para se comunicarem entre si. A palavra é a ferramenta que um Espírito encarnado utiliza para se expressar. Como os Espíritos se comunicam entre si pela transmissão do pensamento, a palavra é desnecessária para os Espíritos se comunicarem entre si.
[8] Na época de Allan Kardec (século 19, de 1801 a 1900) a palavra "fluído" era utilizada em situações onde a palavra "energia" seria utilizada hoje em dia. A palavra "energia" só se tornou popular na década de 1950.
[9] Essa capacidade de se esconder de outros Espíritos depende do grau de elevação moral do Espírito. Ver também as observações de Allan Kardec sobre esse assunto na questão 257.
[10] O perispírito não é constante sob três aspectos (pelo menos): (1) o perispírito é formado da matéria mais refinada (vaporosa) existente em cada mundo (ver questão 94 sobre "perispírito"), e quando um Espírito se desloca de um mundo para outro mundo, o perispírito necessariamente muda; (2) a forma do perispírito não precisa ser sempre a mesma, pois o perispírito tem a forma que o Espírito desejar (ver questão 95 sobre "perispírito"); (3) o perispírito tem a aparência do corpo material usado pela alma em sua última encarnação no planeta (ver questão 150) e – portanto - a aparência do perispírito muda ao logo de encarnações sucessivas.
Portanto, o perispírito necessariamente precisa ter alguma outra característica, ou traço, ou qualidade qualquer que torne o perispírito constante (sempre o mesmo) sob algum aspecto, a ponto do perispírito poder ser usado como uma forma de identificação de um Espírito.
[11] Isso é muito importante. Pela resposta dos Espíritos superiores parece que é possível concluir que um Espírito pode saber sobre as vidas corporais de outros Espíritos, e – claro – que nossas vidas passadas não podem ficar escondidas dos outros Espíritos (ver questão 283: tudo fica às claras para o Espírito desencarnado). Provavelmente devem existir regras para isso: nem todo Espírito deve ter "permissão" para saber sobre as vidas corporais passadas de outros Espíritos, principalmente dependendo da intenção do Espírito que quer saber sobre as vidas passadas de outros Espíritos. Mas aquelas regras não são conhecidas.
[12] Como um Espírito já teve muitas vidas passadas, o Espírito já teve muitas aparências físicas. Se um Espírito pode se mostrar com um perispírito que tenha a aparência que o corpo físico do Espírito tinha quando o Espírito estava encarnado, então faz sentido concluir que o perispírito pode ter qualquer uma daquelas aparências físicas (deste mundo, ou de outro mundo onde o Espírito tenha vivido).
[14] Este último parágrafo é parte da Errata da 5ª edição, de 1865.
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