Parte II: O mundo espírita – Capítulo VI: Vida espírita – Escolha das provas

Livro dos Espíritos: linguagem simplificada - Escolha das provas

 

Escolha das provas

 

258.

Quando o Espírito está na erraticidade (desencarnado) e antes de começar uma nova existência corporal, o Espírito tem consciência e pode prever o que irá acontecer com ele durante a (próxima) vida terrena?

 

É o próprio Espírito quem escolhe o tipo de provas que irá passar [1]. Isso faz parte do livre-arbítrio do Espírito.

 

258a.

Então não é Deus que impõem as tribulações (dificuldades) da vida ao Espírito, como castigo? [2]

 

Nada ocorre sem a permissão de Deus, pois foi Deus que estabeleceu todas as leis que governam o universo. Vão agora perguntar por que Deus decretou esta lei e não uma lei diferente?

 

Quando Deus dá ao Espírito a liberdade de escolher, Deus deixa por conta do (próprio) Espírito a responsabilidade por seus atos, e pelas consequências que aqueles atos tiverem. Nada atrapalha o futuro do Espírito. Tanto o caminho do bem quanto o caminho do mal estão abertos para o Espírito. Se o Espírito chegar a falhar, restará para o Espírito o consolo de que nem tudo acabou, e que a bondade divina permite àquele Espírito recomeçar o que foi mal feito.

 

Além disso, é necessário separar aquilo que é obra de Deus, daquilo é obra do homem. Se um perigo está ameaçando o homem, não foi o homem que criou o perigo, foi Deus que criou o perigo para o homem. O homem viu naquele perigo um meio de progredir (espiritualmente) e – assim – teve o desejo de se expor ao perigo; Deus permitiu isso.

 

259.

Já que a escolha do tipo de provas que o Espírito irá passar (em uma nova existência física) pertence ao próprio Espírito, então todas as tribulações (dificuldades) que o Espírito tem na vida (física) foram previstas e escolhidas pelo próprio Espírito?

 

Todas, não, porque o Espírito não escolheu nem previu nos mínimos detalhes tudo o que iria acontecer com ele no mundo. O Espírito escolhe apenas o tipo de provações.

 

Os detalhes (das provações) dependem da posição (social) do Espírito (encarnado), e muitas vezes são uma consequência das próprias ações do Espírito (encarnado). Por exemplo, quando um Espírito escolhe nascer entre malfeitores, o Espírito sabe a que tipo de tentações o Espírito estará sujeito, mas o Espírito não tem idéia dos atos que ele irá praticar (quando estiver encarnado entre os malfeitores). Os atos que o Espírito irá praticar quando o Espírito estiver encarnado são um resultado do exercício da vontade do próprio Espírito (do livre-arbítrio do Espírito).

 

O Espírito sabe que – ao escolher um certo caminho – terá que travar lutas de uma certa espécie, e conhece – portanto – a natureza das vicissitudes (dificuldades) que irão aparecer em seu caminho, mas o Espírito não sabe se uma certa coisa ou outra irá acontecer em sua vida (física). Os acontecimentos secundários são criados pelas circunstâncias (da vida física), e pela própria força das coisas. Apenas os fatos (acontecimentos) principais que influem no destino (do Espírito) são previstos.

 

Se um homem anda por uma estrada cheia de buracos fundos, o homem sabe que terá que andar com cuidado porque existe uma chance bastante grande de cair. Mas o homem não sabe quando e onde irá cair, e pode até mesmo acontecer que o homem não chegue a cair se o homem tomar bastante cuidado. Se uma telha cai na cabeça de um homem que esteja andando por uma rua, isso não significa que o acidente "estava escrito" como se costuma popularmente dizer.

 

260.

Como um Espírito pode querer nascer entre gente de má vida?

 

É necessário que o Espírito seja colocado em um meio onde o Espírito possa passar pela prova que o próprio Espírito pediu. Pois bem, então é preciso que exista uma semelhança entre o que o Espírito pediu e o meio onde o Espírito será colocado. Para que o Espírito possa lutar contra seu instinto de roubar (por exemplo), é preciso que o Espírito esteja em contato com gente que tem o costume de roubar.

 

260a.

Então, se na Terra não houvesse gente de maus costumes, o Espírito não encontraria na Terra um meio apropriado para passar por certas provas?

 

E isso seria de se lamentar? É o que ocorre nos mundos superiores, onde o mal não penetra. É por isso mesmo que, nesses mundos (superiores), só há Espíritos bons. Façam com que o mesmo aconteça na Terra em breve.

 

261.

O Espírito tem que sofrer tentações de todas as naturezas nas provações pelas quais o Espírito tem que passar para atingir a perfeição? O Espírito tem que viver todas as circunstâncias que possam atiçar o orgulho, a inveja, a avareza, a sensualidade, etc.?

 

Certamente, não, pois (como sabem) há Espíritos que desde o começo tomam um caminho que livra aqueles Espíritos de muitas provas.

 

Mas aquele Espírito que se deixa arrastar para o mau caminho corre todos os perigos de que está cheio aquele mau caminho. Um Espírito pode, por exemplo, pedir a riqueza e o pedido do Espírito pode ser atendido. Então, de acordo com o caráter daquele Espírito, quando aquele Espírito estiver encarnado, aquele Espírito pode ser avarento ou pródigo, pode ser egoísta ou generoso, ou ainda pode se entregar a todos os gozos (prazeres) da sensualidade [3]. Entretanto, isso não quer dizer que o Espírito tenha que obrigatoriamente [4] passar por (apresentar) todas aquelas tendências (más).

 

262.

Em sua origem (infância espiritual) um Espírito é simples, é ignorante, e falta experiência para o Espírito. Então como o Espírito pode escolher uma existência com conhecimento de causa (sabendo exatamente o que está escolhendo) e ser responsável pela escolha que faz?

 

Deus compensa a falta de experiência do Espírito quando Deus traça o caminho que o Espírito deve seguir, assim como os homens fazem com uma criancinha. Porém, o livre-arbítrio do Espírito se desenvolve pouco a pouco e – então – Deus deixa o Espírito fazer suas próprias escolhas; é quando, muitas vezes, acontece do Espírito se perder, tomando o mau caminho por não atender (ouvir) os conselhos dos Espíritos bons. É nisso que está aquilo que é chamado de "queda do homem".

 

262a.

Quando o Espírito tem o livre-arbítrio, a escolha da existência corporal irá depender sempre e exclusivamente da vontade do Espírito, ou o Espírito poderá ser obrigado – pela vontade de Deus – a ter uma nova existência corporal, como expiação?

 

Deus sabe esperar, Deus não apressa a expiação. Entretanto, Deus pode obrigar um Espírito a ter uma nova existência corporal quando o Espírito é inferior ou tem má vontade, sem ser capaz de compreender o que poderia ser mais benéfico para si mesmo; então Deus obriga o Espírito a ter uma nova existência corporal se Deus vê que aquela existência física irá servir para a purificação e para o progresso do Espírito (e, ao mesmo tempo, irá servir como uma expiação para o Espírito).

 

263.

O Espírito faz a sua das provas escolha logo depois da morte (física)?

 

Não. Muitos Espíritos acreditam na eternidade das penas, o que – como já dissemos – é um castigo [5].

 

264.

O que guia o Espírito na escolha das provas que o Espírito queira passar?

 

O Espírito escolhe as provas que possam ser usadas para expiar os erros que o Espírito cometeu (em suas existências físicas anteriores). A natureza das provas que o Espírito escolhe tem relação com a natureza daqueles erros. O objetivo do Espírito é progredir mais depressa. O Espírito progride quando o Espírito expia seus erros.

 

Portanto, alguns Espíritos podem – por exemplo – se obrigar a viver uma vida (física) de misérias e privações, com a intenção (desejo) de suportar com coragem as dificuldades da vida (física) que o próprio Espírito escolheu. Outros Espíritos preferem experimentar as tentações da riqueza e do poder, tentações que são muito mais perigosas por causa dos abusos e do mau uso que podem ser feitos com a riqueza e o poder (sem falar das paixões inferiores que a riqueza e o poder podem atiçar). Outros Espíritos, finalmente, resolvem experimentar as próprias forças nas lutas que terão que combater no contato com o vício.

 

265.

Há Espíritos que escolhem o contato com o vício por motivo de provação, mas não haveria Espíritos que queiram o contato com o vício porque gostam do vício e porque desejam viver em um meio de acordo com o que o Espírito gosta, ou para poderem se entregar (na matéria) às suas tendências materiais?

 

Sem dúvida há Espíritos que agem assim, mas apenas entre os Espíritos que tem um senso moral pouco desenvolvido. A prova vem por si mesma [6], e os Espíritos sofrem a prova por mais tempo. Certo ou tarde esses Espíritos compreendem que a satisfação de suas paixões brutais tem consequências vergonhosas. Esses Espíritos sofrerão aquelas consequências durante um tempo que o Espírito irá pensar que é eterno. Deus deixa que esses Espíritos pensem assim até que o Espírito perceba por conta própria os erros que cometeu, e peça – por vontade própria – por uma oportunidade para resgatar (corrigir) aqueles erros, mediante provações que sejam proveitosas (para a correção dos erros).

 

266.

Não parece natural que os Espíritos queiram escolher as provas menos dolorosas?

 

Pode parecer natural para os homens, mas não parece natural para o Espírito. Assim que o Espírito se desliga da matéria, toda ilusão acaba e o Espírito começa a pensar de outra maneira.

 

 

 

 

Sob a influência das idéias carnais, o homem, na Terra, só vê o lado penoso (doloroso) das provas. É por isso que parece natural para o homem que sejam escolhidas as provas que – do ponto de vista do homem – possam existir lado a lado com os prazeres materiais.

 

Porém, na vida espiritual o Espírito compara os prazeres materiais grosseiros e passageiros com a felicidade constante que o Espírito vislumbra (no futuro); então, os sofrimentos terrenos passageiros não impressionam (incomodam) mais o Espírito. Assim, portanto, o Espírito pode escolher uma prova muito dura, e – por consequência – uma existência angustiante, na esperança de alcançar mais depressa um estado (condição) melhor (como um doente que muitas vezes escolhe um remédio mais desagradável para poder se curar mais rápido).

 

Quem quer ter seu nome ligado ao descobrimento de uma região desconhecida não procura uma estrada florida para percorrer. Essa pessoa conhece os perigos que ela corre (na jornada), mas também sabe que a glória é certa se ela conseguir ter sucesso em seus esforços.

 

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Então, temos uma doutrina de liberdade para escolher as nossas existências e para escolher as provas que temos que passar. Essa doutrina deixa de parecer estranha [7] quando levamos em conta que os Espíritos enxergam as coisas de um modo diferente do modo que os homens enxergam (quando os Espíritos estão livres da influência da matéria). Os Espíritos conseguem enxergar um objetivo que para eles é bem diferente do objetivo dos prazeres temporários do mundo. Após cada existência física os Espíritos veem o passo que deram à frente e compreendem o que ainda falta em pureza para atingir aquele objetivo. É por isso que os Espíritos se submetem voluntariamente a todas as vicissitudes (dificuldades) da vida corporal, e é por isso que os Espíritos pedem as provas que permitam que o objetivo seja alcançado mais depressa.

 

Portanto, não existe nenhum motivo de espanto se o Espírito não prefere uma existência (física) mais suave. No estado (grau) de imperfeição onde o Espírito está, não é possível que o Espírito desfrute de uma vida livre de amarguras. O Espírito sabe disso e, exatamente para conseguir uma vida física (futura) livre de amarguras é que o Espírito procura se melhorar.

 

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Não vemos exemplos desse tipo de escolhas todos os dias?

 

Esse tipo de escolha não é igual à escolha de um homem que queira ter um futuro melhor e que, para isso, se impõem a tarefa de passar uma parte da vida trabalhando sem descanso para reunir os bens materiais que garantam o seu bem-estar?

 

Seja por amor à ciência (conhecimento), ou seja por interesse próprio, um militar que se oferece para uma missão perigosa, ou um marinheiro que enfrenta perigos tão grandes quanto os que um militar enfrenta, não estão também fazendo aquele tipo de escolha, se submetendo a provas voluntárias sabendo que conseguirão honras e benefícios e se não falharem?

 

Um homem com algum interesse, ou desejando a glória, não se submete a tudo? Os concursos não são também provas voluntárias que os concorrentes enfrentam com o objetivo de avançarem nas carreiras que escolheram? Ninguém consegue qualquer posição mais alta nas ciências, nas artes, na indústria se não for passando por uma série de posições mais baixas (que são provas por si mesmas).

 

Portanto, a vida humana é uma cópia da vida espiritual. Em uma escala menor, a vida humana apresenta todas as circunstâncias da vida espiritual. Na vida terrena muitas vezes escolhemos provas duras com o objetivo de conseguir uma posição mais alta; então, já que o Espírito enxerga mais longe do que o homem enxerga, e já que a vida corporal é para o Espírito apenas um incidente de duração curta, por que o Espírito deixaria de escolher uma existência mais dura e trabalhosa desde que tal vida física leve o Espírito à felicidade eterna?

 

Os Espíritos que dizem que irão pedir para serem príncipes ou milionários (já que cabe ao Espírito escolher a sua existência física) se parecem com os míopes que apenas veem aquilo que conseguem tocar; se parecem com crianças gulosas que respondem que desejam ser pasteleiros ou doceiros quando se pergunta àquelas crianças o que querem ser quando crescerem.

 

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Um viajante que esteja atravessando um fundo de vale coberto por um nevoeiro espesso não consegue ver o comprimento da estrada por onde está indo, nem vê os pontos extremos da estrada. Quando esse viajante sai do vale e chega ao topo da montanha, o olhar desse viajante enxerga todo o caminho que já foi percorrido, e enxerga o caminho que ainda falta percorrer. Esse viajante percebe o fim do caminho, percebe os obstáculos que ainda terá que ultrapassar, e – então – providencia os meios mais seguros para chegar ao seu destino.

 

O Espírito encarnado é como aquele viajante no fundo de vale e ao pé da montanha. Quando o Espírito está livre das ligações terrenas, a visão do Espírito enxerga tudo, como a visão do viajante que chegou ao topo da montanha. Para o viajante o objetivo é descansar do cansaço da viagem; para o Espírito, o objetivo é a felicidade maior após as tribulações (dificuldades) e após as provas.

 

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Todos (sic [8]) os Espíritos que estão na erraticidade (desencarnados) dizem que eles se dedicam a pesquisar, estudar, e observar a fim de fazerem as suas escolhas.

 

Na vida corporal não há exemplos exatamente disso? Frequentemente não levamos anos procurando por uma carreira profissional que acabamos por escolher, com a certeza de que é a melhor escolha para tornar nosso caminho pela vida mais fácil? Se não temos sucesso em uma escolha, fazemos outra escolha. Cada uma das escolhas que fazemos representa uma fase, um período da vida. Não gastamos uma parte de cada dia pensando no que vamos fazer no dia seguinte?

 

Ora, as diversas existências físicas não são para os Espíritos apenas fases, apenas períodos, apenas dias da vida espiritual do Espírito? Como sabemos, a vida espírita é a vida normal, e a vida física é transitória e passageira.

 

 

267.

O Espírito pode fazer a escolha de suas provas enquanto o Espírito está encarnado?

 

O Espírito por si mesmo é quem faz a escolha das provas que tem que passar. Já dissemos uma vez que sempre há momentos (durante a vida física) quando o Espírito encarnado fica (parcialmente) independente (livre) da matéria que serve de corpo físico para o Espírito [9], então o Espírito pode fazer aquelas escolhas mesmo quando o Espírito (ainda) está encarnado. O desejo (de escolher provas) que serve de motivação para o Espírito (ainda encarnado) pode influir na escolha das provas que o Espírito possa fazer; essa influência depende da intenção que o Espírito possa ter (na escolha daquelas provas). Acontece, contudo, que o Espírito (totalmente) livre (da influência da matéria) muitas vezes vê as coisas de modo diferente.

 

267a.

Com certeza muitos homens não querem as grandezas e as riquezas por pensarem que as grandezas e as riquezas são uma expiação ou uma prova [10]. Seria possível que as riquezas e as grandezas fossem escolhidas pelos homens como uma expiação ou como uma prova?

 

Sem a menor sombra de dúvidas, isso não seria possível. A matéria (os homens) deseja as grandezas e as riquezas para aproveitar aqueles benefícios, mas o Espírito (desencarnado) deseja as grandezas e as riquezas para poder vencer as vicissitudes (dificuldades) morais que as grandezas e as riquezas apresentam para o Espírito.

 

268.

O Espírito tem que passar constantemente por provas até que o Espírito chegue ao estado de pureza perfeita?

 

Sim, mas as provas que o Espírito ainda irá passar não são provas no sentido que os homens entendem. Os homens chamam de "provas" as tribulações (dificuldades) materiais. Ora, se o Espírito já se elevou até um certo grau (na escala espírita [11]), o Espírito não tem mais que passar por tribulações (dificuldades) materiais (embora o Espírito não seja perfeito ainda). Porém, o Espírito continua a ter deveres que não são penosos (dolorosos) para o Espírito; o cumprimento daqueles deveres ajuda o Espírito em seu aperfeiçoamento, mesmo que aqueles deveres sejam apenas a tarefa de ajudar outros Espíritos a se aperfeiçoarem.

 

269.

O Espírito pode se enganar quanto ao proveito que irá tirar de uma prova que o Espírito escolheu?

 

O Espírito pode escolher uma prova que esteja acima de suas forças, e – então – o Espírito pode falhar. O Espírito também pode escolher uma prova que não tenha proveito nenhum para o Espírito; é o que acontece quando o Espírito procura uma vida (física) ociosa e inútil. Mas, então, quando o Espírito volta para o mundo dos Espíritos, o Espírito percebe que não ganhou nada (com as provas que escolheu), e o Espírito pede novas provas que permitam que o Espírito recupere o tempo perdido.

 

270.

Qual é a causa das vocações de certas pessoas, a causa da vontade que certas pessoas sentem de seguir uma certa carreira em vez de uma outra carreira?

 

Parece que esta pergunta já foi respondida. Aquela vocação e aquela vontade não seriam uma consequência do que já foi dito sobre a escolha das provas e sobre o progresso realizado pelo Espírito em suas existências (físicas) anteriores?

 

271.

Se um Espírito que está na erraticidade (desencarnado) estiver estudando as diversas condições em que poderá progredir, de que forma um Espírito poderia pensar que poderia progredir se – então – o Espírito escolhesse nascer entre canibais, por exemplo?

 

Espíritos já adiantados não nascem entre canibais. Entre canibais nascem Espíritos com a mesma natureza dos canibais, ou Espíritos que estão ainda menos adiantados que os canibais.

 

 

 

 

Sabemos que os canibais da Terra não estão no último degrau (mais baixo) da escala espiritual, e sabemos que há mundos onde existe uma brutalidade e uma ferocidade que não podem ser comparados com nada que exista na Terra. Os Espíritos que encarnam naqueles mundos são, portanto, (ainda mais) inferiores aos Espíritos mais inferiores que possam encarnar na Terra.

 

Portanto, para tais Espíritos (mais atrasados) a oportunidade de nascer entre os selvagens da Terra representa um progresso, da mesma forma que haveria progresso para um canibal da Terra se aquele canibal pudesse ter uma profissão em que não existisse a necessidade de fazer correr sangue. Tais Espíritos (mais atrasados) não podem (conseguem) ter objetivos mais altos porque a inferioridade moral daqueles Espíritos não permite que aqueles Espíritos compreendam um progresso que seja mais completo (maior).

 

O Espírito só avança passo a passo. Para um Espírito não é possível passar de uma só vez da condição de selvagem para a condição de civilização, e esta é uma das razões que mostram que a reencarnação é necessária (correspondendo verdadeiramente à justiça de Deus). Se não fosse assim, qual seria o fim (destino) de milhões de criaturas que morrem todos os dias na maior degradação sem ter meios de alcançar condições mais superiores (melhores)? Por que Deus iria privar aqueles milhões de homens das vantagens que outros homens tiveram?

 

 

272.

Espíritos vindos de um mundo inferior à Terra, ou Espíritos de um povo (da Terra) muito atrasado (como os canibais, por exemplo), podem nascer no meio de povos civilizados?

 

Podem. Então, quando isso acontece, alguns Espíritos se perdem (falham) por quererem subir muito alto ("dar um passo maior do que a perna"). Mas quando um Espírito mais inferior nasce no meio de povos civilizados, aquele Espírito fica deslocado no meio onde nasceu porque aquele Espírito tem costumes e instintos que entram em conflito com os costumes e instintos dos outros homens (ao seu redor).

 

 

 

 

Espíritos mais inferiores que encarnam no meio de pessoas civilizadas são aqueles seres que causam o triste espetáculo da ferocidade dentro da civilização. Não existe degradação (rebaixamento) de um desses Espíritos quando aquele Espírito volta (reencarna) para o meio dos canibais (por exemplo); o Espírito apenas retornou para o lugar a que pertence, e com isso talvez até ganhe alguma coisa.

 

 

273.

É possível que um homem de raça civilizada reencarne em uma raça de selvagens, por expiação?

 

É possível, mas isso depende do tipo de expiação.

 

Por exemplo, uma pessoa que tenha sido muito cruel com seus escravos [12] poderá, por sua vez, ser um escravo (em uma nova encarnação) e assim sofrer os maus tratos que aquela pessoa impôs a seus semelhantes (na encarnação anterior). Um outro alguém que exerceu o comando em uma existência (física) poderá – por sua vez e em uma nova encarnação – ter que obedecer às pessoas que se curvaram à sua vontade (na encarnação anterior). Nesses dois casos, a reencarnação nessas condições seria uma expiação para o Espírito que tivesse abusado do poder que tinha em uma encarnação anterior, e Deus pode obrigar o Espírito a passar por essa expiação [13].

 

Além disso, um Espírito bom pode querer encarnar no meio de povos selvagens e ocupando uma posição de influência, para ajudar aqueles povos selvagens a progredirem. Nessa situação, aquele Espírito bom está encarregado de uma missão [14].

 


 

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[1]        Observar que o Espírito escolhe o tipo (apenas) de provas, o Espírito não escolhe qual é a prova (do tipo escolhido pelo Espírito). Por exemplo (bem simples): o Espírito pode querer passar pela prova do "perdão" (querer provar que é capaz de perdoar), e – como é fácil imaginar – há milhares de situações pelas quais o Espírito pode passar e que podem proporcionar para o Espírito uma oportunidade de perdoar.

[2]        Não existe "castigo" nas tribulações (dificuldades) da vida. São os homens que enxergam as dificuldades da vida como sendo um "castigo" porque as dificuldades da vida são dolorosas e o homem, como um Espírito encarnado, não consegue perceber que aquelas dificuldades são uma benção que irão permitir que o Espírito cresça espiritualmente.

[3]        Sensualidade não tem necessariamente uma ligação com sexo ou com sexualidade. Sensualidade é tudo que está ligado aos sentidos físicos, incluindo – por exemplo – a gula e o prazer dos alimentos.

[4]        O Espírito não é obrigado a apresentar tendências más. Não existe nada que obrigue o Espírito a isso. O Espírito só apresenta tendências más se o Espírito quiser (através de sua própria vontade) ou se o Espírito não conseguir resistir às tentações.

[5]        Não é um "castigo" dado por Deus ou por alguma lei universal. A palavra "castigo", aqui, tem mais o sentido de "sofrimento". O "castigo" é aplicado pelo próprio Espírito a si mesmo por causa da forma como o Espírito pensa (acreditando que as penas são eternas). Quando o Espírito muda sua forma de pensar (se educando, se instruindo, e se melhorando moralmente), o "castigo" termina. Não há necessidade de "perdão" de ninguém para que o "castigo" acabe.

[6]        A Providência divina se encarrega de criar para o Espírito as provas que o Espírito tem que passar (querendo ou não).

[7]        Esse processo de escolha de provas é de certo modo estranho porque deixa a cargo de alguém inexperiente (o Espírito) a responsabilidade de fazer escolhas que terão consequências sérias no futuro (do Espírito). Por comparação, seria algo parecido com permitir que uma criança escolha ela mesma os assuntos (matérias) que ela quer estudar na escola.

[8]        Sic Erat Scriptum: traduzido como "assim estava escrito". Dizer que todos os Espíritos se dedicam a fazerem boas escolhas quando estão na erraticidade não é exatamente correto pois já foi visto que há Espíritos (bastante imperfeitos) que não se preocupam com esse assunto. O correto seria – talvez – dizer "a grande maioria", no lugar de dizer "todos".

[9]        É bastante comum o Espírito ficar livre da matéria do corpo físico durante as horas de sono. Ver questão 401.

[10]       Nenhuma pessoa enxerga as riquezas e as grandezas como uma expiação ou como uma prova.

[11]       Ver questões 100 a 113 sobre "escala espírita".

[12]       É importante não esquecer que o "Livro dos Espíritos" foi escrito por volta do ano de 1.860, e naquela época a escravidão ainda era uma coisa comum.

[13]       Allan Kardec estava perguntando sobre reencarnação em raças menos adiantadas. Portanto, temos que supor que nos dois exemplos dados pelos Espíritos superiores a reencarnação aconteceu em uma raça considerada inferior (um escravo, ou um subalterno humilde, supostamente menos adiantados).

[14]       Isso já aconteceu na Terra um número enorme de vezes, quando Espíritos elevados encarnaram entre os homens com a missão de ajudar os homens a progredirem. O maior e mais conhecido exemplo é o de Jesus Cristo.

 

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