Parte II: O mundo espírita – Capítulo VII: Volta do Espírito à vida corporal – Idiotismo e loucura

Livro dos Espíritos: linguagem simplificada - Idiotismo e loucura

 

Idiotismo e loucura 

 

371.

Tem algum fundamento (faz sentido) pensar que a alma dos cretinos e dos idiotas é uma alma de natureza inferior?

 

Não tem fundamento algum. Os cretinos e os idiotas tem almas humanas, e não é raro que sejam almas mais inteligentes do que os homens supõem; aquelas almas (dos cretinos e dos idiotas) não tem todos os meios (órgãos do corpo físico) que permitam que aquelas almas se comuniquem (sem parecerem ser cretinos ou idiotas), da mesma forma que um mudo não tem a capacidade de falar.

 

372.

Qual é o objetivo da Providência (divina) quando a Providência cria seres desgraçados, como os cretinos e os idiotas?

 

Os Espíritos que utilizam os corpos de homens idiotas (e de homens cretinos) são Espíritos passando por uma punição [1]. Aqueles Espíritos sofrem por causa do constrangimento que experimentam, e sofrem por causa da impossibilidade que existe de se manifestarem através de órgãos (do corpo físico) que não estão desenvolvidos (formados) ou que possuem sérios problemas.

 

372a.

Então está errado pensar que os órgãos (do corpo físico) não tem influência sobre as faculdades (capacidades) do Espírito?

 

Nunca dissemos que os órgãos (do corpo físico) não têm influência. Os órgãos tem uma influência muito grande sobre a manifestação das faculdades do Espírito, mas as faculdades do Espírito não são criadas pelos órgãos físicos: essa é a diferença. Um músico excelente que estivesse usando um instrumento com defeito não iria produzir música boa, mas nem por isso o músico deixaria de ser um músico excelente.

 

 

 

 

É importante levar em conta o "estado normal" e o "estado patológico (doentio)" dos homens.

 

Em seu "estado normal", o homem possui uma moral (vontade) que permite que o homem supere os obstáculos (dificuldades) que a matéria (do corpo físico) apresenta para o homem.

 

Mas há casos em que os obstáculos que a matéria (do corpo físico) apresenta para o homem são tão grandes que as manifestações da alma são impedidas ou ficam distorcidas (como no caso dos cretinos e dos idiotas). São casos "patológicos (doentios)". Neste estado a alma não goza (desfruta) de toda a sua liberdade, e a própria lei humana tira de tais pessoas a responsabilidade pelos atos (errados) que pessoas nesse estado venham a praticar.

 

 

373.

Qual é o mérito (vantagem) da existência de seres – como os cretinos e idiotas – que não tem condições de progredir (espiritualmente), já que tais seres não podem fazer nem o bem e não podem fazer nem o mal?

 

Essa situação é uma expiação (para os Espíritos) por causa do abuso que os Espíritos daqueles seres fizeram de certas faculdades (capacidades) [2]. O Espírito fica temporariamente estacionado em seu progresso (espiritual).

 

373a.

Então no corpo de um homem idiota pode estar um Espírito que tenha sido um homem de gênio em uma existência (física) anterior?

 

Correto. Em várias ocasiões a genialidade se torna um castigo quando o homem abusa daquela genialidade.

 

 

 

 

A superioridade moral de um ser nem sempre é tão grande quanto a superioridade intelectual do ser, e os grandes gênios podem ter muita coisa para expiar [3]. Por causa disso, com muita frequência esses seres tem uma (nova) existência (física) que é pior do que a existência anterior que aqueles seres tiveram, e isso se torna uma causa de sofrimento (expiação) para aqueles seres. As dificuldades que o Espírito desses seres tem para se manifestarem são – então – vistas pelo Espírito como algemas que impedem os movimentos de um homem vigoroso [4]. Os cretinos e os idiotas tem cérebros danificados, assim como uma pessoa coxa tem pernas aleijadas, e assim como os cegos tem olhos com defeitos.

 

 

374.

Na condição de Espírito livre [5] o idiota tem consciência do seu estado mental?

 

Frequentemente tem. O Espírito (livre) compreende que as correntes que impedem seus movimentos são uma prova (lição) e uma expiação.

 

375.

Qual é a situação do Espírito na loucura?

 

Quando o Espírito se encontra em uma situação de liberdade (desencarnado), o Espírito recebe as impressões (sensações) da matéria diretamente (sem precisar de órgão físicos para isso), e o Espírito age diretamente sobre a matéria [6].

 

Mas quando o Espírito está encarnado, o Espírito está em uma condição muito diferente: o Espírito precisa necessariamente do auxílio de órgãos especiais (sic [7]) do corpo físico para poder receber as impressões (sensações) da matéria, e para poder agir sobre a matéria.

 

Quando uma parte (ou um conjunto) dos órgãos do corpo físico é modificada (de alguma forma, como nas doenças) as ações do Espírito na matéria, e as impressões (sensações) da matéria que o Espírito recebe através daqueles órgãos ficam prejudicadas (modificadas ou interrompidas). Se o corpo físico perde os olhos, o homem fica cego; se o corpo físico perde os ouvidos, o homem fica surdo, etc..

 

Imagine que os órgãos do corpo físico que controlam (sic [8]) as manifestações da inteligência e da vontade tenham sido modificados ou estejam afetados por alguma enfermidade (em parte, ou totalmente). Então é fácil compreender que essa situação irá causar uma perturbação (loucura) no Espírito já que o Espírito só dispõem daqueles órgãos incompletos ou alterados para se manifestar. Como Espírito, o Espírito por si mesmo tem perfeita consciência dessa situação, mas o Espírito não tem o poder de fazer absolutamente nada para modificar a situação em que o Espírito se encontra.

 

375a.

Então é sempre o corpo (físico) que está desarranjado (com problemas e imperfeições), e não o Espírito?

 

Sim.

 

Mas é importante não esquecer que assim como o Espírito age sobre a matéria, a matéria (corpo físico) também tem influência sobre o Espírito dentro de certos limites. Então pode acontecer que o Espírito possa ficar temporariamente afetado por causa dos órgãos que o Espírito usa para se manifestar, e através dos quais o Espírito recebe as impressões (sensações da matéria).

 

Então, se a loucura durar por um tempo longo, pode acontecer que a repetição dos mesmos atos (de loucura) pelo homem acabe por ter uma influência sobre o Espírito, e o Espírito – então – não ficará livre dessa influência até que o Espírito tenha se libertado de toda influência material (de sua última existência física).

 

376.

Por que a loucura algumas vezes leva o homem ao suicídio?

 

O Espírito sofre por causa do constrangimento que o Espírito está passando (com a loucura), e sofre por causa da impossibilidade que existe para o Espírito de se manifestar livremente; por isso o Espírito procura na morte física uma forma de escapar de sua prisão.

 

377.

Depois da morte (física), o Espírito do louco sente os efeitos dos problemas que suas faculdades (capacidades) tinham quando o Espírito estava encarnado?

 

O Espírito pode sentir aqueles efeitos por algum tempo após a morte (física), até que o Espírito se desligue completamente da matéria [9]. O Espírito sente aqueles efeitos da mesma forma que um homem sente por algum tempo os efeitos do sono depois que o homem acorda do sono.

 

378.

Esse tipo de alteração do cérebro reage de que modo sobre o Espírito depois da morte (física)?

 

Esse tipo de alteração do cérebro aparece para o Espírito como uma recordação. É como se existisse um peso sobre o Espírito, e é necessário um certo tempo para que o Espírito recupere a consciência sobre tudo, já que o Espírito não tem a compreensão de tudo o que aconteceu durante a sua loucura (na vida física).

 

É por isso que a duração desse período de perturbação (confusão) [10] do Espírito depois da morte física será tanto mais longa quanto mais longa tenha sido a duração da loucura durante a vida terrena do Espírito.

 

Depois que o Espírito se liberta do corpo pela morte física, o Espírito sente por um certo tempo os efeitos das impressões (sensações) dos laços que prendiam o Espírito ao corpo físico.

 


 

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[1]        Novamente, não existe "punição". Existe uma prova (lição) que o Espírito (dependendo de seu grau de elevação espiritual) encara como sendo uma "punição" (sofrimento), e não como uma oportunidade de elevação.

[2]        Por exemplo, um Espírito muito inteligente que tivesse usado sua inteligência para praticar o mal em uma encarnação poderia encarnar novamente como um idiota (de tal forma que o Espírito ficasse impedido de cair na tentação de novamente usar sua inteligência para continuar praticando o mal).

[3]        De maneira geral os Espíritos progridem muito mais rapidamente em inteligência do que os Espíritos progridem moralmente.

[4]        O Espírito se sente como se estivesse dentro de uma camisa de força, sem poder fazer nada para se livrar da camisa de força.

[5]        Ver questão 267 onde os Espíritos superiores declaram que há momentos durante a existência física em que o Espírito fica temporariamente livre da matéria.

[6]        Um Espírito desencarnado está livre da matéria grosseira (do mundo físico), mas o Espírito continua a ter um perispírito que também é matéria (refinada e vaporosa). Ver questões 93 a 95 sobre "perispírito".

[7]        Sic Erat Scriptum: traduzido como "assim estava escrito". Talvez a palavra "especializado" devesse ser usada foi utilizada a palavra "especiais". Os olhos, por exemplo, são órgãos especializados (criados com um propósito único e claramente definido) em dar a visão para o homem.

[8]        Sic Erat Scriptum: traduzido como "assim estava escrito". Na verdade, os órgãos do corpo físico não controlam as manifestações do Espírito. Melhor seria dizer que os órgãos do corpo físico são usados pelo Espírito para controlar as manifestações do Espírito.

[9]        Após a morte física o Espírito leva algum tempo mais ou menos longo para se desligar completamente da matéria. Ver questão 155 sobre "separação da alma e do corpo".

[10]       O Espírito sempre sofre alguma perturbação (confusão) após a morte física. Neste caso em particular, os Espíritos superiores estão falando exclusivamente sobre o tipo de perturbação que o Espírito sofre por causa de uma vida física afetada pela loucura.

 

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