Parte II: O mundo espírita – Capítulo VII: Volta do Espírito à vida corporal – A infância

Livro dos Espíritos: linguagem simplificada - A infância

 

A infância

 

379.

O Espírito que anima o corpo de uma criança é tão desenvolvido quanto o Espírito que anima o corpo de um adulto?

 

O Espírito que anima o corpo de uma criança pode ser até mais desenvolvido do que o Espírito que anima o corpo de um adulto, se o Espírito que anima o corpo de uma criança já progrediu mais (na escala espírita [1]). Apenas a imperfeição (falta de desenvolvimento completo) dos órgãos infantis do corpo físico da criança é que impede o Espírito de se manifestar (plenamente). O Espírito que anima o corpo de uma criança realiza apenas aquilo que o instrumento (corpo da criança) permite que o Espírito realize.

 

380.

Sem levar em conta o obstáculo da imperfeição (falta de desenvolvimento completo) dos órgãos do corpo físico de uma criança (obstáculo que impede a livre manifestação do Espírito), o Espírito que anima o corpo de uma criança pensa como uma criança ou pensa como um adulto?

 

Como se trata de uma criança com um corpo físico que ainda não tem todos os órgãos da inteligência (cérebro) completamente desenvolvidos (formados), é claro que aqueles órgãos da inteligência não podem dar ao Espírito animando o corpo da criança a mesma capacidade de pensamento que um adulto teria [2].

 

Portanto, o Espírito animando o corpo de uma criança tem a inteligência limitada de fato enquanto a idade não amadurecer o raciocínio (razão) da criança.

 

A perturbação que o ato (processo) da encarnação [3] causa no Espírito não termina de repente quando acontece o nascimento. Aquela perturbação desaparece aos poucos conforme os órgãos do corpo físico vão se desenvolvendo.

 

 

 

 

A observação de um fato apoia esta resposta: os sonhos de uma criança não são da mesma natureza dos sonhos de um adulto. Quase sempre os sonhos das crianças são infantis, o que é uma indicação das preocupações dos Espíritos animando os corpos das crianças.

 

 

381.

Quando acontece a morte (física) de uma criança, o Espírito que animava a criança recupera imediatamente o vigor (disposição) que o Espírito tinha antes de encarnar na criança?

 

Assim tem que ser pois na morte física o Espírito fica livre de seu envoltório (envelope) corporal. Entretanto, o Espírito não recupera imediatamente a lucidez que o Espírito tinha antes de encarnar na criança; o Espírito só recupera completamente a sua lucidez (de Espírito) quando o Espírito estiver completamente separado daquele envoltório (corpo físico), isto é, quando não restar mais nenhum laço prendendo o Espírito ao corpo físico (morto) [4].

 

382.

Durante o período da infância, o Espírito encarnado na criança sofre por causa do constrangimento criado para o Espírito pela imperfeição (falta de desenvolvimento completo) dos órgãos do corpo físico da criança?

 

Não. Esse estado (infância) é uma necessidade, e está na ordem da natureza, está de acordo com as vistas (propósitos) da Providência (divina). Esse estado (infância) é um período de repouso para o Espírito.

 

383.

Que utilidade tem para o Espírito a passagem pelo estado de infância?

 

O Espírito encarna com o objetivo de se aperfeiçoar. Durante o período da infância o Espírito está mais acessível (receptivo e disposto a aceitar) às impressões (instruções, orientação, educação) que são capazes de auxiliar o adiantamento (intelectual e moral) do Espírito. Os Espíritos (encarnados) encarregados de educar a criança (como os pais, por exemplo) devem contribuir para o adiantamento do Espírito encarnado na criança.

 

384.

Por que o choro é a primeira manifestação da criança ao nascer?

 

O choro acontece para estimular o interesse (atenção) da mãe e provocar os cuidados que a criança precisa. Não é óbvio que se as manifestações da criança (que ainda não sabe falar) fossem todas de alegria, então as pessoas ao redor da criança não iriam se preocupar em dar para a criança todos os cuidados que a criança não pode dispensar? Admirem em tudo, pois, a sabedoria da Providência (divina).

 

385.

O que é que determina a mudança que acontece no caráter das pessoas em certa idade, especialmente quando a pessoa sai da adolescência? Aquela mudança acontece porque o Espírito se modifica?

 

Aquela mudança acontece porque o Espírito retoma a sua própria natureza e, então, se mostra como o Espírito realmente é.

 

Os homens não conhecem o que a inocência das crianças esconde. Os homens não sabem o que as crianças são (como Espíritos), nem o que (quem) as crianças foram (em existências anteriores), nem o que as crianças serão (na nova existência corporal do Espírito). Mesmo assim os homens tem afeto pelas crianças, os homens tem carinho pelas crianças como se as crianças fossem uma parte deles mesmos, a tal ponto que o amor que uma mãe tem pelos filhos é tido como o maior amor que um ser possa dedicar a outro ser. De onde vem esse afeto, de onde vem a bondade que mesmo as pessoas estranhas sentem por uma criança? Os homens não tem essa resposta. É o que vamos explicar agora.

 

As crianças são os seres que Deus envia para viverem novas existências (físicas). Para que os homens não sejam severos (duros) demais com as crianças, Deus dá para as crianças todos os ares de inocência. Mesmo no caso de uma criança com inclinações más, os homens desculpam as más ações daquela criança com a justificativa da inconsciência (falta de entendimento) [5]. Entretanto, a imagem de inocência de uma criança não deve ser confundida com alguma forma de superioridade (evolução espiritual) real que o Espírito encarnado na criança possa ter conseguido ao encarnar na criança (em comparação com o grau de adiantamento do Espírito antes de encarnar na criança). A imagem de inocência da criança é o que o Espírito encarnado na criança deveria ser, mas não é, e o castigo (consequência) por isso vai cair sobre o Espírito.

 

Mas Deus não deu aquele ar de inocência para as crianças somente por causa das crianças. Deus deu um ar de inocência para as crianças principalmente por causa dos pais porque a fraqueza típica das crianças precisa do amor dos pais. Ora, o amor dos pais ficaria bastante diminuído se a criança tivesse um caráter áspero (rude) e intratável (rebelde); como os pais pensam que os filhos são bons e dóceis (por causa daquele ar de inocência das crianças), os pais dedicam toda a afeição para seus filhos e cercam seus filhos dos maiores cuidados. Quando, porém, os filhos não precisam mais da proteção e da assistência que tiveram dos pais por quinze ou vinte anos, o caráter real e individual dos Espíritos encarnados nas crianças aparece às claras. Aqueles Espíritos permanecem bons se eram Espíritos bons, mas sempre mostrando traços (de caráter) que ficaram escondidos na primeira infância.

 

Como pode ser visto, os processos de Deus são sempre os melhores e, quando se tem o coração puro, a explicação daqueles processos pode ser facilmente compreendida.

 

De fato, considerem que é bem possível que nos lares da Terra estejam nascendo crianças com Espíritos que vem de mundos onde aqueles Espíritos aprenderam hábitos diferentes dos hábitos dos homens, e – então – digam como seria possível que esses seres vivessem no meio dos homens se aqueles Espíritos estivessem carregando paixões (interesses), inclinações, e gostos inteiramente diferentes das paixões, inclinações, e gostos que os homens tem. Como seria possível que tais Espíritos estivessem entre os homens se aqueles Espíritos não passassem pela peneira da infância (como Deus determinou que fosse feito)? É na infância que todos os pensamentos, todos os traços, todos os tipos de seres (criados na infinidade de mundos onde vivem os seres) se confundem e se misturam. Os homens mesmos, quando morrerem, estarão em um estado que é uma espécie de infância entre novos irmãos (desencarnados). Quando o Espírito retorna para a existência (espiritual) fora da Terra, o Espírito (ainda) desconhece os hábitos, os costumes, e as relações que existem em um mundo que é novo para o Espírito [6]. O Espírito recém desencarnado terá dificuldade para utilizar (por exemplo) uma linguagem que o Espírito não está (mais) acostumado a falar (uma linguagem que é mais rápida do que o pensamento dos homens).

 

A infância tem outra utilidade ainda. Os Espíritos só entram na vida corporal para se aperfeiçoarem, para se melhorarem. A delicadeza (fragilidade) da idade infantil torna os Espíritos brandos (dóceis) e mais receptivos aos conselhos da experiência das pessoas que estejam encarregadas de fazer aqueles Espíritos progredirem. É na idade infantil que é possível modificar o caráter daqueles Espíritos, que é possível reprimir (sufocar) as más inclinações que aqueles Espíritos possam ter. Esse é um dever que Deus deu aos pais; uma missão (tarefa) que os pais terão que dar contas a Deus.

 

Portanto, é assim que a infância não é apenas útil, necessária, e indispensável, mas é também uma consequência natural das leis que Deus estabeleceu e que guiam o universo.

 


 

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[1]        Ver também questões 142 e 197. Ver questões 100 a 113 sobre "escala espírita".

[2]        Ver também questões 352 e 369.

[3]        Ver também questão 339.

[4]        Ver também questão 155. Ver também questões 163 a 165, "Perturbação que se segue à morte".

[5]        A conhecida justificativa: "é só uma criança e não sabe o que faz".

[6]        A consciência e o conhecimento (lembranças) de um Espírito recém desencarnado não voltam para o Espírito imediatamente para o Espírito logo após a morte física. É necessário algum tempo (variando de Espírito para Espírito) para que isso aconteça. Então, o Espírito recém desencarnado passa por um período que pode ser comparado à infância entre os homens. Nesse sentido é que o mundo espiritual é "novo" para um Espírito recém desencarnado. Ver também questão 319.

 

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