Parte III: Leis morais – Capítulo X: Lei de liberdade – Conhecimento do futuro

Livro dos Espíritos: linguagem simplificada - Conhecimento do futuro

 

Conhecimento do futuro [1]

 

868.

O futuro pode ser revelado para o homem?

 

O futuro está oculto para o homem em princípio. Deus permite que o futuro seja revelado para o homem somente em casos (situações) raros e excepcionais (especiais).

 

869.

Qual é o objetivo do futuro permanecer oculto para o homem?

 

Se o homem conhecesse o futuro, o homem iria negligenciar (descuidar) o presente, e o homem não iria agir com a liberdade que o homem age. Se o homem conhecesse o futuro, o homem ficaria dominado pela ideia de que seria inútil cuidar de uma coisa que tem que acontecer (de qualquer forma), ou o homem iria procurar impedir que aquela coisa acontecesse.

 

Deus não quis que as coisas fossem desse jeito, a fim de que cada homem contribua para a realização das coisas, até mesmo das coisas que o homem poderia desejar que não acontecessem. É dessa forma que muitas vezes é o próprio homem quem prepara (sem se dar conta) os acontecimentos que irão ocorrer ao longo da sua própria existência (física).

 

870.

Por que Deus permite que o futuro seja revelado para o homem algumas vezes se é conveniente que o futuro permaneça oculto para o homem?

 

Deus permite que o futuro seja revelado para o homem algumas vezes quando o conhecimento do futuro facilita a realização de alguma coisa (ao invés de atrapalhar a realização daquela coisa), induzindo (provocando) o homem a agir de um modo diferente do modo que o homem agiria se o futuro não fosse revelado para o homem.

 

Também não é raro que o futuro seja revelado para o homem como uma prova (lição). A perspectiva (expectativa) de um acontecimento (futuro) pode sugerir (favorecer) pensamentos mais, ou menos bons para o homem.

 

Por exemplo, se um homem fica sabendo que vai receber uma herança que aquele homem não esperava receber, o sentimento da cobiça pode nascer naquele homem quando aquele homem fica sabendo que irá receber aquela herança. Tal homem desde então já espera que ele poderá ter gozos (prazeres) terrenos maiores depois de receber a herança, e (por isso) tal homem pode talvez desejar a morte da pessoa de quem ele irá receber a herança, dada a ânsia (desejo) que tal homem tem de possuir a herança mais depressa. Ou, então, a perspectiva (expectativa) da herança irá despertar (criar) sentimentos bons e sentimentos generosos naquele homem.

 

Se a predição (do futuro) não acontece, é uma outra prova (lição) para o homem. A prova (lição) está na maneira como o homem irá suportar a decepção porque a predição (do futuro) não aconteceu. Mas nem por isso (predição que não acontece) o homem terá menos mérito, ou menos demérito (culpa) pelos pensamentos bons ou maus que o homem possa ter tido em seu íntimo por acreditar que aquela predição (do futuro) iria se realizar.

 

871.

Deus sabe tudo e por isso Deus (também) sabe se um homem irá ou não fracassar em uma determinada prova (lição). Assim sendo, qual é a necessidade daquela prova (lição) uma vez que aquela prova (lição) não irá mudar em nada o que Deus já sabe sobre aquele homem?

 

Perguntar isso é a mesma coisa que perguntar por que Deus não criou o homem perfeito e acabado [2]. Ou seria a mesma coisa que perguntar por que o homem passa pela infância antes de chegar à fase de adulto [3].

 

A finalidade (objetivo) da prova (lição) não é dar para Deus esclarecimentos (conhecimentos) sobre um homem, pois Deus sabe perfeitamente o que aquele homem vale. A finalidade (objetivo) da prova (lição) é dar para o homem toda a responsabilidade por seus próprios atos, já que o homem tem a liberdade de praticar ou não os atos que o homem pratica.

 

O homem é dotado (tem) a capacidade de escolher entre o bem e o mal, e a prova (lição) faz com que o homem tenha que lutar contra as tentações do mal; se o homem resiste ao mal, o homem tem todo o mérito por ter resistido.

 

Ora, mesmo que Deus saiba de antemão se o homem se sairá bem ou não em uma prova (lição), Deus (em Sua justiça) não pode nem punir e nem recompensar o homem por um ato que o homem ainda não praticou [4].

 

 

 

 

A mesma coisa acontece entre os homens. Por mais capaz que um estudante seja, por maior que seja a certeza que se tenha de que aquele estudante terá sucesso, ninguém dá qualquer nota para aquele estudante antes que aquele estudante tenha passado pelo exame (prova). Da mesma forma, um juiz não condena uma pessoa acusada de alguma coisa se não houver fundamento (provas) de um ato consumado (realizado de fato); um juiz não condena uma pessoa com base na suposição (previsão) de que aquela pessoa possa praticar ou irá praticar um ato (criminoso).

 

 

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------

 

Quanto mais se reflete nas consequências que o conhecimento do futuro teria para o homem, melhor se percebe o quanto a Providência (divina) foi sábia quando a Providência (divina) ocultou o futuro para o homem.

 

A certeza de um acontecimento venturoso (feliz) levaria o homem para a falta de ação. A certeza de um acontecimento infeliz encheria o homem de desânimo. Em ambos os casos as forças do homem ficariam paralisadas. Por isso o futuro não é mostrado para o homem.

 

O futuro só é mostrado para o homem como uma meta (objetivo) que o homem deve atingir pelos seus próprios esforços (mas sem que o homem saiba pelo que o homem terá que passar para alcançar aquela meta). Se o homem conhecesse todos os incidentes que o homem teria que passar no caminho para atingir aquela meta, aquele conhecimento iria impedir a iniciativa do homem, e iria impedir que o homem usasse seu livre-arbítrio (livre escolha).

 

Quando a realização de alguma coisa está garantida, ninguém se preocupa mais com aquela coisa.

 


 

Anterior

 

Índice

 

Próximo

 



 

[1]

Ver também questão 243.

 

[2]

Ver também questão 119.

 

[3]

Ver questão 379.

 

[4]

Ver questão 258.

 

Comentários